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Testemunhas relembram massacre de Eldorado dos Carajás

O crime completa 20 anos neste domingo(17), lembrado como Dia Nacional

Não havia mulheres entre os mortos. Mas elas estavam lá. E eram muitas. No dia 17 de abril de 1996, Maria Jesuíta Oliveira, Rita Monteiro e Isabel Rodrigues testemunharam um dos piores episódios da história agrária do Brasil: o Massacre de Eldorado dos Carajás.

 

Naquele dia, um trecho da rodovia PA 150, no Pará, estava interditado por sem terras participantes da Marcha Pela Reforma Agrária. Cercam de 1.500 pessoas marchavam a caminho de Marabá e Belém.

 

“Nós estávamos na pista gritando, cantando, e a gente pensava que os ônibus eram para nós. Mas desceu a polícia.” O relato é de Maria Jesuíta Oliveira, de 51 anos. Ela estava no grupo de trabalhadores rurais que fechava a rodovia, quando 155 policiais militares se posicionaram dos dois lados da pista. A ação para desobstruir o trecho conhecido como “Curva do S” terminou de forma trágica. Muitos feridos - quase 70 - e 19 sem-terra mortos no local pela polícia. Outros dois trabalhadores morreram em decorrência dos ferimentos.

 

Maria Jesuíta relembra emocionada o momento em que Oziel Alves, de 17 anos, um dos líderes do MST, foi torturado e morto.“Deram cinco minutos para as mulheres correr. Foi a hora que começou a tortura do Oziel. Puxaram ele de dentro da casa para fora. Lixando ele. Torturando ele. Mandava ele gritar as palavras de ordem, ele gritava. Quanto mais ele gritava, mais eles torturavam. Foi uma tortura naquele menino”, recorda Maria Jesuíta.

 

Hoje com 70 anos, Rita Monteiro, a Dona Rita, já morava no local e não fazia parte do movimento. Sua casa foi atingida por vários tiros deferidos pela polícia. “Minha menina gritando dentro de casa comigo: “mamãe nós vamos morrer”. Era muita bala dentro de casa, nas paredes”, relembra Dora Rita.

 

Quem também sobreviveu ao massacre foi Isabel Rodrigues. A dirigente do Movimento dos Trabalhares Rurais Sem Terra havia saído para uma reunião em outro acampamento. Ela lembra das mulheres feridas. “A Rubenita foi atingida no rosto, pegou o queixo dela. Inclusive acho que tem bala alojada. Tem a Dona Abadia que foi a que bala pegou na coxa dela”, conta.

 

Isabel Rodrigues lembra que a impunidade com as mortes no campo continua. Nenhum dos 155 policiais foi condenado. Apenas os comandantes da ação, o coronel Mário Colares Pantoja e major José Maria Oliveira, foram julgados e condenados.

 

Por conta do Massacre de Eldorado dos Carajás, o 17 de abril passou ser lembrado como Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

 

Também são destaques do Jornal da Amazônia 1ª Edição desta sexta-feira(15):
- Comissão Pastoral da Terra divulga hoje a publicação Conflitos no Campo Brasil 2015;
- Justiça suspende licenciamento do porto de Maicá, em Santarém

 

O Jornal da Amazônia 1ª Edição vai ao ar, de segunda a sexta-feira, às 7h45, na Rádio Nacional da Amazônia, uma emissora da Empresa Brasil de Comunicação.



Criado em 15/04/2016 - 12:47 e atualizado em 15/04/2016 - 09:52