Digite sua busca e aperte enter

Compartilhar:

Ouça a palavra e a música de Bia Ferreira e Doralyce no Tarde Nacional Rio

Dupla enfrenta o preconceito racial e a LGBTIfobia promovendo o amor afrocentrado através de uma música repleta de informação

Tarde Nacional

No AR em 28/10/2019 - 16:17

O Tarde Nacional Rio musical de todas as sextas-feiras, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, recebeu, no dia 25 de outubro, as artistas Bia Ferreira e Doralyce Gonzaga. O papo, com Luciana Valle, foi recheado de informações sobre a realidade enfrentada pela população feminina, negra e LGBTI. A maior parte do trabalho da dupla acontece em São Paulo, mas a residência está atualmente fixada na cidade do Rio.

Bia Ferreira, mineira, cantora, compositora, multi instrumentista e produtora musical, no Rio há um ano e meio, chamou a atenção do grande público com a música “Cota Não é Esmola”, uma obra de resistência antirracista. Seu primeiro disco, "Igreja Lesbiteriana, Um Chamado”, foi lançado em setembro de 2019. Para Bia, o Rio de Janeiro tem se mostrado um espaço difícil de se produzir cultura, “principalmente fazendo esse trabalho que a gente faz, que aborda política, um trabalho que aborda informação”, diz Bia ao se referir ao conteúdo de suas letras. Ela começou a rodar o país cantando desde os 16 anos de idade, já tendo morado em lugares como Aracaju, Piracicaba, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, entre outros.

Bia Ferreira e Doralyce e o projeto Preta Leveza

Doralyce é cantora da cidade de Olinda, Pernambuco, e residente no Rio de Janeiro. Ela é reconhecida como uma das principais expoentes do movimento conhecido como Afrofuturismo na América. Tem um repertório autoral com mais de 300 músicas, sendo cantada por nomes como Gaby Amarantos e Preta Rara, entre outras. Uma vez no Rio, sua primeira conquista foi a carteira de advogada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ). Depois, ela escreveu um funk, ritmo muitas vezes machista, que coloca a mulher em lugar pejorativo, mas no caso dela constestando o patriarcado e os padrões de beleza. Trata-se do funk “Miss Beleza Universal”, “que toca em quase todos os blocos de Carnaval da cidade”, segundo Doralyce. Achando pouco, ela fez um samba, refazendo a letra original de Toninho Geraes para a música “Mulheres” (ouça durante a entrevista), atualizando e mostrando um olhar de dentro para fora do universo feminino e suas representatividades, ao citar na letra, por exemplo, o valor de Elza Soares e Chica da Silva, entre outras peculiaridades.

Sobre fixar residência no Rio, o primeiro comentário é sobre o fato do Rio ter praia e a influência disso na qualidade de vida. Mas, a situação é mais séria e contextualizada. “Eu migrei, feito caranguejo, pra esse outro litoral", diz Doralyce durante a entrevista. Segundo ela, não só no Rio, mas no sudeste, as coisas reverberam mais, em função da existência de um racismo institucional, que não permite que artistas do eixo nordeste tenham destaque nacional. Segundo ela, há um silenciamento e um apagamento ainda maior da voz de mulheres pretas porque, “ao final das contas, se a gente for conversar agora sobre música, preta, do nordeste, em específico de Pernambuco, eu vou conseguir te citar artistas, mas eu acho difícil que você conheça muitas, ne?”, questiona ela. Por isso se deve a migração para um outro litoral, mais “influente” nas palavras dela.

“Tem uma mulherada massa, fora do eixo, fazendo som”, completa, citando algumas dessas artistas, não só da música, como Iza do Amparo, Mãe Beth de Oxum, Lia de Itamaracá, e da nova cena, Rayssa Dias, Gabi da Pele Preta, Jessica Caitano, “A gente queria ver representatividade para essas mulheres também”, completa Doralyce.

Sobre as dificuldades de batalhar dentro de “um mercado muito branco”, que dificulta, se não torna quase impossível, o rompimento de certas barreiras, Doralyce mais uma vez dá o seu testemunho, durante a conversa com Luciana Valle, papo que contou com essas e muitas outras reflexões das duas artistas: “É difícil lidar com a base da pirâmide social. Pensar que uma mulher, preta, intelectual, que possivelmente tenha sido alguém que já limpou a sua casa, se você for classe média ou classe média alta, pode ser um centro intelectual que vai mudar essa sociedade. É muito difícil, uma sociedade racista, que tem um racismo estrutural, aceitar isso”, completa.

Ouça a entrevista completa e algumas músicas, com direito a um duo à capela ao final, clique aqui:

 

 

Criado em 28/10/2019 - 19:51

Mais do programa