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O sucesso da desilusão, com Dalva de Oliveira

Relembre também a interpretação da cantora para música do desenho

Dalva de Oliveira teve seu apogeu artístico nos anos 1930, 1940 e 1950. Vicentina de Paula Oliveira nasceu na cidade de Rio Claro, SP, no dia 5 de maio de 1917 e foi uma das mais destacadas cantoras brasileiras.  Mas a voz não foi usada para cantar sambas ou marchas de carnaval. Nem para alegrar o público feminino que passou a lotar os auditórios da Rádio Nacional, nos anos 50. No tempo de Marlene e Emilinha, Dalva, que também tinha fã-clube, cantava a tristeza, a desilusão.

 

No livro "Por trás das ondas da Rádio Nacional", de Miriam Goldfeder, a autora explica que, no repertório de Dalva, não há lugar para o mito da felicidade, para o happy end. As letras podem ser redundantes, mas a aceitação pelo público foi imediata. Depois da guerra, havia no país uma “situação de insegurança e insatisfação latente nos setores médios e baixos da população, já desiludidos com as perspectivas que a sociedade parecia lhes oferecer”, afirmou a autora Goldfeder.

 

Filha de uma portuguesa e de um brasileiro, que era pintor,  Dalva foi muito pobre. Desde cedo aprendeu música, e, como tinha uma bela e potente voz, de contralto ao soprano, estudou canto lírico. Em 1935, conheceu o compositor e cantor Herivelto Martins, com quem iria se casar mais tarde. Ao lado de Francisco Sena, Herivelto formava o dueto Preto e Branco. Com a entrada de Dalva, passaram a se chamar Trio de Ouro.

 

Foi assim que estrearam na Rádio Mayrink Veiga, no Rio, a convite de César Ladeira. Modernos para a época, Herivelto e Dalva, antes de se casarem, foram morar juntos, para horror da classe média. Finalmente, oficializaram a união em 1937. Foram dois rituais: na igreja católica e no ritual de umbanda, na praia. Tiveram dois filhos, que também seriam cantores: Peri Oliveira Martins (Pery Ribeiro) e Ubiratan Oliveira Martins. Depois de dez anos, o casamento acabou. Naquele tempo, não era permitido o divórcio no Brasil.

 

As brigas foram piorando com o tempo. Agressões físicas, temperadas com álcool e muita raiva, só pioravam a situação. Segundo Pery Ribeiro, que lançou o livro 'Minhas duas estrelas', em 2006, Herivelto não suportou o fato de Dalva conseguir viver sem ele. Mesmo tendo sido do pai a decisão da separação e já estar com uma segunda mulher, costumava dizer que foi ele quem criou a Dalva. Como se a fama fosse de sua autoria e responsabilidade. O que não era verdade, apesar de Herivelto ser um ótimo compositor.

 

Dalva fazia muito sucesso na Rádio Nacional, mas começou a ser difamada. Ela passou a ter outros namorados, o que pareceu uma atitude escandalosa para uma determinada fatia do público. O problema é que começou na imprensa uma campanha de difamação a pedido de Herivelto Martins. Foram publicadas várias reportagens assinadas pelo jornalista David Nasser no Diário da Noite. As palavras acabaram com a moral de Dalva. Como consequência, o conselho tutelar mandou Pery e Ubiratan para um internato. A alegação era de que a cantora não tinha boa conduta moral para criar os filhos. Dalva entrou em desespero.

 

Começou nas estações de rádio a apresentação de uma série de músicas que revelavam a tensão entre os dois. As roupas sujas do ex-casal estavam sendo lavadas em público. Por exemplo, Segredo, de 1947, música de Herivelto Martins e Marino Pinto, falava sobre essa situação constrangedora. Pronto, começava ali a incrível disputa musical entre dois artistas de peso. O pior, o público acompanhava tudo, ora apoiando um, ora apoiando o outro.

 

Dalva morreu no Rio de Janeiro, no dia 30 de agosto de 1972, aos 55 anos. Mais de duas mil pessoas foram se despedir dela no Teatro João Caetano.

 

Com colaboração da professora da PUC-RJ e jornalista Rose Esquenazi, quadro "O rádio faz história" do programa Todas as Vozes desta segunda-feira (12) conta histórias da carreira da intérprete e mostra trechos dos sucessos "Tudo Acabado", "Segredo", "Saia do meu Caminho", "Folha Morta" e a versão brasileira oficial de uma das músicas do filme Branca de Neve, que teve interpretação de Dalva.

 

Ouça, no player, o áudio completo.

 

Todas as Vozes vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h20 às 10h, na Rádio MEC AM do Rio de Janeiro - 800 kHz, com apresentação do jornalista, professor e radialista Marco Aurélio Carvalho.



Criado em 13/10/2015 - 23:48 e atualizado em 13/10/2015 - 19:40

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