O Caderno de Música deste domingo (25) irá adentrar o universo da música popular brasileira para conhecer a história e o som do maxixe, um gênero musical de grande sucesso na transição do séculos XIX e XX, que teve papel importante na construção da identidade nacional.
Embora hoje seja praticamente desconhecido do grande público, o maxixe foi extremamente popular em sua época. No final do século 19, era difícil circular pelas ruas do Rio de Janeiro sem ouvir alguma opinião ou comentário sobre ele. A palavra “maxixe”, de origem quimbundo — idioma ainda falado no noroeste de Angola —, tinha, naquele momento, vários significados. Era o nome de um fruto espinhoso e amargo de uma planta rasteira, mas passou a designar também um tipo de baile público, uma maneira íntima e sensual de dançar e, claro, um gênero musical popular e sincopado.
Pesquisas indicam que o maxixe teria surgido nas festas populares com esse mesmo nome, que animavam o bairro da Cidade Nova, no Rio de Janeiro — então capital do Brasil —, na segunda metade do século XIX. Seu surgimento é atribuído à miscigenação de elementos de gêneros europeus de salão, como a polca e a valsa, com características do lundu — manifestação musical e dançante trazida ao Brasil por pessoas escravizadas da etnia banto, da região de Angola e do Congo. Por conta dessa herança africana e do perfil social e racial de seus admiradores — em sua maioria, negros e pobres — o maxixe foi alvo constante de preconceito, sendo muitas vezes associado à marginalidade.
De acordo com o pesquisador José Ramos Tinhorão, o maxixe, enquanto fenômeno musical, surgiu da demanda de uma trilha sonora própria para o maxixe dançado. Sua coreografia era de par enlaçado, ou seja: com os corpos dos dançarinos colados um no outro, e repleta de reboleios e requebrados. Por seu forte apelo sensual, o maxixe foi logo considerado promíscuo e imoral por parte da conservadora sociedade carioca. A polêmica em torno do gênero chegou à esfera pública, envolvendo disputas políticas e religiosas. Não à toa, o jornalista e pesquisador Jota Efegê, um de seus principais estudiosos, apelidou o maxixe de “a dança excomungada”.
Confira mais no Caderno de Música deste domingo, às 12:30, na Rádio MEC. O programa teve a apresentação de Sidney Ferreira, produção de Carina Amorim, com pesquisa e roteiro de Beatriz Schreiner.