O Caderno de Música deste domingo (2) apresenta mais uma edição da série “Biografias”, e celebra os 240 anos de nascimento do pianista, compositor e professor Friedrich Kalkbrenner. Nascido em 7 de novembro de 1785, Kalkbrenner foi uma figura central no mundo pianístico da primeira metade do século XIX, sendo um dos grandes representantes da tradição clássica que se estendia de Mozart e Haydn até os primórdios do romantismo.
Filho do músico Christian Kalkbrenner, Friedrich recebeu as primeiras lições do pai e, ainda criança, já se destacava em diversas áreas. Aos seis anos, tocou um concerto de Haydn diante da rainha da Prússia e, aos oito, falava quatro idiomas fluentemente. Em 1798, ele ingressou no Conservatório de Paris, onde estudou piano com Louis Adam, importante pedagogo e pai do compositor Adolph Adam, e recebeu aulas de harmonia e composição com Charles Simon Catel. Premiado no Conservatório, Friedrich Kalkbrenner seguiu para Viena em 1803, onde aperfeiçoou-se com Antonio Salieri e Johann Georg Albrechtsberger, mestres de Beethoven e Hummel, com quem também teve contato.
Após temporadas de concertos na Alemanha, Kalkbrenner fixou-se em Londres entre 1814 e 1823, atuando como pianista, professor e empresário. Ele se tornou sócio do inventor Johann Bernhard Logier na criação do chiroplast, um dispositivo para o treino da posição das mãos, e obteve grande sucesso comercial. Em 1824, mudou-se definitivamente para Paris, onde se associou à fábrica de pianos Pleyel, contribuindo para o desenvolvimento do instrumento e consolidando-se como um dos músicos mais ricos e influentes de sua época. Friedrich Kalkbrenner era conhecido pela técnica impecável e pelo toque claro e equilibrado, características que definiam o ideal pianístico anterior ao romantismo pleno. Seu Méthode pour apprendre le piano-forte, de 1831, foi reeditado até o fim do século XIX e influenciou uma geração de pianistas, como Marie Pleyel e Camille-Marie Stamaty (que foi professor de Camille Saint-Saëns e Louis Moreau Gottschalk).
Além de mais de duzentas obras para piano, Kalkbrenner escreveu concertos, obras de câmara e óperas, além de ter sido o primeiro a transcrever as nove sinfonias de Beethoven para piano solo, publicadas entre 1842 e 1844, décadas antes de Liszt realizar o mesmo feito. Sua escrita valorizava a clareza, o brilho e a virtuosidade, com passagens rápidas de oitavas e texturas leves, características que anteciparam o virtuosismo romântico. Friedrich Kalkbrenner morreu em Enghien-les-Bains, perto de Paris, em 10 de junho de 1849, vítima de cólera. Ele deixou como legado não apenas uma vasta obra, mas também uma ponte entre a elegância clássica e a exuberância técnica que marcaria o piano do século XIX.
O Caderno de Música vai ao ar neste domingo. 12h30, na Rádio MEC.