Jogo da Fiocruz convida jovens a refletirem sobre a menstruação

Falar sobre menstruação ainda é um desafio em muitas escolas, famílias e espaços de convivência. O assunto, cercado por estigmas, desinformação e silêncios históricos, impacta diretamente a saúde, a autoestima e o acesso à educação de milhões de meninas e pessoas que menstruam no Brasil. Foi com o objetivo de transformar essa realidade que pesquisadoras da Fiocruz desenvolveram o jogo Ciclo do Poder.

Lançado em junho de 2025, o jogo é voltado para adolescentes de 10 a 15 anos e propõe uma vivência reflexiva e colaborativa sobre o ciclo menstrual, com foco no autoconhecimento e na escuta. Em entrevista ao Nacional Jovem, a bióloga e pesquisadora Rafaela Vieira Bruno, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), uma das idealizadoras do projeto, destacou que o jogo é uma tecnologia educacional criada para fortalecer o diálogo, combater preconceitos e promover a dignidade menstrual. “Hoje, mais de 4 milhões de meninas em idade escolar não têm acesso a condições básicas de higiene. Isso significa falta de banheiros adequados, de água limpa e de materiais como absorventes. O resultado é que muitas acabam faltando às aulas, se sentem constrangidas ou mesmo envergonhadas por algo que é natural”, explica.

O tabuleiro do Ciclo do Poder representa os 28 dias de um ciclo menstrual e acompanha a personagem Cris, que está menstruando pela primeira vez. A cada jogada, os participantes se deparam com desafios vividos por Cris e discutem, em grupo, possíveis soluções. Não há respostas certas ou erradas, e sim trocas mediadas por educadores(as) ou facilitadores(as), que ajudam a contextualizar e acolher as experiências dos jogadores.

Rafaela reforça que o jogo não é uma solução isolada, mas sim parte de um processo pedagógico maior. “É uma ferramenta poderosa, mas que precisa ser usada com cuidado, sensibilidade e propósito. Ele não substitui a educação formal, mas pode potencializar conversas que muitas vezes não acontecem nem em casa, nem na escola.”

O Ciclo do Poder já recebeu prêmios acadêmicos e culturais e deve chegar a mais escolas do estado do Rio de Janeiro, graças a uma emenda parlamentar aprovada em 2025. A equipe espera que a iniciativa inspire outros projetos e políticas públicas voltadas à saúde menstrual.

“Mais do que falar sobre menstruação, queremos garantir dignidade, acesso à informação e respeito. E isso começa com escuta, empatia e acolhimento”, conclui Rafaela.