2020 começou com um gosto amargo na capital do Rio de Janeiro. Já na primeira semana, moradores de vários bairros estranharam o cheiro, o sabor e a cor da água distribuída pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Uma semana depois, a companhia informou que a vilã era uma substância chamada geosmina, que aumentou devido à grande quantidade de algas no local de captação - o rio Guandu. Entre os motivos deste aumento, a presença excessiva de esgoto. Apesar da insistência do governo do estado de que a substância é inofensiva, a situação causou a disparada do preço e do consumo de água mineral, que chegou a faltar na cidade.
Foi no primeiro mês do ano também que, apesar dos alertas de que uma grande crise sanitária poderia atingir o país, o sistema de saúde pública mostrou mais uma vez a fragilidade dos contratos com organizações sociais. Mais à frente, vieram as primeiras denúncias de irregularidades. Janeiro evidenciou, ainda, a falta de políticas públicas nas cidades do Estado para lidar com os tradicionais temporais de verão. Mais de dez mil pessoas ficaram desalojadas em todo o Rio de Janeiro.
Em fevereiro, enquanto muitos já viviam o clima do carnaval, cientistas já alertavam para a necessidade de uma resposta brasileira ao novo coronavírus. A Fiocruz recebeu representantes da Organização Panamericana de Saúde (Opas) para uma capacitação sobre o diagnóstico da infecção. Enquanto o perigo da pandemia de covid-19 já assustava o mundo, o Rio registrava números recordes no carnaval de rua. Sete milhões de foliões foram às ruas da cidade, em 384 blocos oficiais, 408 desfiles e sete megablocos, que acabaram se transformando na última aglomeração antes da crise sanitária estourar.
Antes de acabar o mês, no entanto, a folia dá lugar a preocupação. No dia 28, a Secretaria de Saúde confirma que investigava cinco casos suspeitos de coronavírus. Em 5 de março veio a confirmação do primeiro registro, em Barra Mansa, no sul fluminense. A infectada havia viajado para a Europa. No dia 16 de março, a pandemia já toma todas as atenções. A situação de emergência no estado foi decretada em 17 de março, dois dias antes da morte da primeira morte pela doença: a trabalhadora doméstica Cleonice Gonçalves, de 63 anos, que trabalhava em um bairro nobre da capital e pegou covid-19 da patroa, recém-chegada da Itália.
Menos de uma semana depois, o comércio não essencial da capital foi fechado e anunciadas restrições à circulação. O Rio chega ao final do mês com 23 mortes confirmadas. Março se encerrou com a promessa do governo do estado de inaugurar 1.800 leitos em hospitais de campanha, mas os próximos meses acabaram revelando o desrespeito ao compromisso: apenas dois de sete hospitais previstos foram entregues.
Ouça na reportagem de Raquel Júnia, da Rádio Nacional no Rio de Janeiro, no player acima.