A ligação entre o samba, o futebol e os jogos de azar ou, mais precisamente, o jogo do bicho, já foi estudada por sociólogos, economistas, juristas e compositores. Essa relação é tema do Roda de Samba, deste sábado (24), ao meio-dia.
Para ouvir, sintonize a Nacional FM Brasília (96,1MHz) ou ouça pela internet aqui, no horário do programa.
O fato é que, mesmo sendo uma contravenção, não há dúvida sobre a sua influência e esta ligação perigosa e lucrativa.
Um projeto de lei tramita no Congresso Nacional desde 2008 e prevê a legalização de cassinos, bingos e critérios para a regulamentação. A justificativa seria o combate ao crime e uma maior arrecadação de impostos. O jogo do bicho é uma bolsa de apostas muito parecida com a loteria federal. A maior diferença é que cada um aposta o que quer. E, acredite, foi criado na época do Império por um Barão.
Em 1888, o zoológico de Vila Isabel foi criado e se tornou um sucesso total. A entrada era franca e os custos bancados pelo Barão e pelo Império. Com a chegada da República, a situação financeira se agravou e os ingressos passaram a ser cobrados. Ninguém mais aparecia no zoo. Para não fechar, o Barão teve a ideia de criar um atrativo. Mal sabia ele que estava criando uma instituição nacional.
Na verdade, o jogo do bicho foi inspirado em um jogo mexicano que usava flores. O barão e seu assistente mexicano decidiram fazer uma adaptação para 25 bichos, que são os mesmos até hoje. Cinco anos depois, as bancas de apostas já estavam espalhadas por toda a cidade e nas grandes capitais e, só após 10 anos, com a morte do barão, o jogo foi considerado contravenção e proibido.
A integração total teria começado por volta dos anos 30, tendo como principal personagem Natalino José de Nascimento, o seu Natal da Portela. Funcionário da Central do Brasil perdeu o braço em um acidente nos trilhos e, como não arrumava emprego, virou anotador do jogo do bicho. Chamado de cabra valente, de anotar a dono da banca foi um pulo.
Seu Natal frequentava as rodas de samba desde a juventude, mas, quando o amigo Paulo da Portela morreu, ele resolveu fazer uma homenagem e investir dinheiro na escola de coração. Surgia a figura do bicheiro patrono e a Portela se tornou a maior vencedora de todos os tempos. Depois, vieram vários outros: Castor de Andrade da Mocidade, Anísio da Beija-Flor e por aí vai.
A verdade é que a repressão ao jogo do bicho não foi eficaz durante os anos da Ditadura. Não interessava irritar ou acabar com a chamada “diversão” das classes menos favorecidas. Nos últimos anos, esta repressão tem sido mais intensa, em especial, porque, ao contrário dos pais e avós, os novos bicheiros estariam se associando também ao tráfico.
O historiador Luiz Antônio Silva, do Rio de Janeiro, deixa claro: “o jogo do bicho sempre foi aceito porque, apesar de juridicamente ilícito, era moralmente aceito porque não fazia mal a ninguém. Contudo, o tráfico de drogas jamais terá a mesma visão”.
No player no topo desta matéria, você confere um trecho do programa, que vai ao ar neste sábado, lá é possível ouvir Pelo Telefone, com Martinho da Vila, Jogo Proibido, com Moreira da Silva, Jogo Numerado, com Os Originais do Samba, e É o bicho, com Bezerra da Silva.
O Roda de Samba tem produção e edição de Heloisa Fernandes. A Apresentação é de Fátima Melo e a sonoplastia de Messias Melo. O programa vai ao ar todos sábados, ao meio-dia, com horário alternativo às quintas-feiras, às 22h.