Radar Sonoro traz roteiro de lojas de discos em São Paulo

O mês de abril tem não apenas uma, mas duas datas para celebrar a cultura dos discos de vinil. Uma delas é o que ficou conhecido como Record Store Day, o dia das lojas de discos de vinil, que surgiu a partir de uma ideia lá em 2007, quando donos de pequenas lojas de discos nos Estados Unidos decidiram criar uma data dedicada à cultura do bolachão. A primeira edição rolou no dia 19 de abril de 2008 e, com o tempo, lojas ao redor do mundo passaram a comemorar a data também, inclusive aqui no Brasil. O Record Store Day chama atenção para a importância de dar preferência às lojas físicas independentes de pequenos comerciantes, no lugar das megastores online.

Costuma ser uma época em que vários produtos promocionais são lançados exclusivamente para o Record Store Day, que neste ano foi dia 12 de abril. E os brasileiros têm também o dia 20 de abril, celebrado como o Dia do Disco de Vinil. A data marca a morte do cantor mineiro Ataulfo Alves, um dos grandes nomes do samba, que partiu em 1969.

Com essas duas datas em mente, o Radar Sonoro destaca algumas lojas de discos aqui na cidade de São Paulo, para quem quer se aventurar no mundo do vinil e conhecer mais dessa cultura. Começando pelas galerias do centro da cidade, pela famosa Galeria do Rock, na Avenida São João, que já chegou a abrigar mais de 80 lojas de discos e hoje tem por volta de 10. Ainda é o endereço da Baratos Afins, aberta desde 1978 por Luiz Calanca, e que, além de loja, também é uma gravadora.

Já lançou álbuns de Arnaldo Baptista, Itamar Assumpção, Walter Franco, entre outros nomes, se mantendo aí como um baluarte da música independente. Também no segundo andar da Galeria do Rock, a London Calling Discos existe desde 1986 e reúne lançamentos e raridades, incluindo material fora de catálogo. Na loja, também costumam rolar sessões de autógrafos com bandas gringas e pocket shows.

Mudando de galeria, mas ainda no centro, temos a Galeria Nova Barão, na Rua Barão de Itapetininga, que se tornou um reduto de lojas de discos, ainda que algumas tenham fechado as portas durante a pandemia. Por lá estão lojas como a Disco 7, Medusa Records, Locomotiva Discos e a Sonzeira Records. Na Zona Norte, perto da Ponte do Piqueri, fica a Celson Discos, loja que saiu da Galeria Boulevard, no centro, mas continua na ativa desde 2006.

O Celso, dono da loja, perdeu a visão há alguns anos e, mesmo sem enxergar, sabe exatamente onde está cada disco, pela forma como estão organizados na loja, que conta com gemas da música brasileira. Já no bairro da Mooca, na Rua dos Trilhos, fica um casarão dos anos 40 do século passado, que reúne um acervo com mais de um milhão de discos. É o Casarão do Vinil e, segundo o dono, Manuel Jorge, é o maior acervo de discos de vinil da América Latina.

Um último endereço que não podia ficar de fora dessa lista é a Eric Discos, na Rua Arthur de Azevedo, em Pinheiros, que tem um mosaico na calçada indicando que está ali desde 1978. A loja foi aberta por Eric Crawford, um inglês que veio morar no Brasil e trouxe sua coleção de discos lá nos anos 70. Muitas dessas lojas também vendem discos online, mas eu recomendo muito a visita a esses espaços.

É muito legal entrar numa loja de discos, ver de perto as capas, manusear os fonogramas e descobrir novos sons. E a loja Eric Discos foi fonte de inspiração para a loja fictícia do filme "Durval Discos", da Anna Muylaert. O filme saiu em 2002 e mostra o personagem Durval, interpretado por Ary França, que, ali no começo dos anos 2000, quando o CD era hegemônico, se mantinha firme vendendo LPs — e quem diria que, de lá pra cá, o vinil daria essa volta triunfante com suas 33 rotações.

Para fechar o Radar Sonoro de hoje, a música que abre o filme: “Mestre Jonas”, de Sá, Rodrigues e Guarabyra, na versão dos Mulheres Negras.