O Radar Sonoro, com a jornalista Sarah Quines, traz esta semana um álbum muito icônico da música brasileira e dá a dica do documentário que fala sobre essa obra-prima. É o álbum “Afro-Sambas”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes, um disco que saiu em 1966 e trouxe uma sonoridade diferente de tudo que era lançado naquela época.
As oito faixas compostas em parceria por Baden e Vinícius tiveram arranjos e regência do maestro Guerra-Peixe, e além do Baden Powell no violão e do Vinícius no vocal, teve ainda um reforço nas vozes com o Quarteto em Cy, Dulce Nunes e o Coro da Amizade, que tinha entre os integrantes uma jovem atriz, Betty Faria. É dela a segunda voz que a gente escuta em Canto de Ossanha, a música que abre o disco.
A inspiração pra esse trabalho surgiu de um vinil que o Vinícius de Moraes ganhou de um amigo. O disco em questão era Sambas de Roda e Candomblés da Bahia, de Mestre Bimba e Olga de Alaketu.
Já Baden Powell, por sua vez, fica bastante impactado com os rituais de religiões de matriz africana e com o som do berimbau depois de uma viagem a Salvador.
E aí o que o Baden e o Vinícius fizeram de inovador numa época em que a bossa nova já era velha foi: não apenas se inspirar nos sons ligados ao candomblé, mas incorporar a percussão africana, com instrumentos como atabaques, bongô, agogô e afoxé na música popular brasileira, junto com instrumentos já convencionais como violão, flauta, saxofone, baixo e bateria.
E essa história toda foi registrada no documentário “Os Afro-Sambas - O Brasil de Baden e Vinícius”, que tá em cartaz na programação do In-Edit, o festival internacional do documentário musical. O festival ocorre em São Paulo até o dia 22 de junho e tem programação gratuita, com exceção do CineSesc, que tem ingressos a preços populares.
Com direção de Emílio Domingos, o filme traz depoimentos de grandes figuras da música brasileira, como Jards Macalé, Maria Bethânia, Marcos Valle, que falam sobre a importância dos Afro-Sambas, e é muito legal ver a reação deles enquanto escutam as músicas.
O documentário resgata o período da gravação desse disco, fala sobre como se deu o encontro dos dois e o processo de composição das músicas, a parceria entre eles não só como músicos, mas como amigos. E aí tem muitas imagens de arquivo, com materiais inéditos, além de depoimentos de familiares e amigos do Baden e do Vinícius.
E entre os pontos altos do filme está ter conseguido reunir algumas das figuras que participaram das gravações, como a Cynara, uma das quatro irmãs do Quarteto em Cy. Ela morreu em abril de 2023, e o filme é dedicado a ela.
É uma bela homenagem a esse disco tão emblemático, que destaca a força da herança afro-brasileira refletida nas melodias criadas com genialidade por Baden Powell, acompanhadas das letras de Vinícius de Moraes.
Neste sábado (21), tem sessão do documentário Os Afro-Sambas às 14h na sala da Galeria Olido, no Centro. Entrada gratuita, só chegar uma hora antes pra retirar o ingresso.
Clique no player para ouvir a coluna Radar Sonoro.