No sábado, 11 de outubro de 2025, acompanhamos a Romaria Fluvial, que percorreu durante o dia as águas da Baía do Guajará, e também a Moto-romaria. À noite, foi realizada a Trasladação, que antecede a grande romaria do segundo domingo de outubro.
Definitivamente, a capital paraense faz jus ao nome da estrela que guiou os Três Reis Magos até o local do nascimento de Jesus! Como um sinal milagroso, Belém simbolicamente é anunciação porque se antecipa ao Natal com a realização do Círio de Nazaré, que desde 2013 é considerado pela Unesco Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade!
Este ano a maior procissão católica do mundo celebra a sua 233ª edição às vésperas da 30ª, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), e por isso está sendo considerado o Cirio da COP 30, mas também um termômetro para testar a logística da cidade. Não por acaso Belém já vive dias fora do comum com o Círio de Nazaré. É visível o reforço no sistema de segurança durante a festividade religiosa que homenageia Nossa Senhora de Nazaré. Segundo o governo do Pará, a experiência de Belém com o evento religioso contribui de modo significativo para o planejamento da infraestrutura e logística da COP-30.
Ainda ontem, uma verdadeira prova de fogo: a imagem peregrina foi celebrada na Romaria Fluvial e, depois, com a moto romaria.
À noite, a Trasladação que durou mais de 5 horas e meia, antecipou a celebração que desde às 6h deu inicio à procissão mais importante do Círio, com cerca de 2 milhões de pessoas em romaria.
Abrigo e acolhimento. O nome "Casa de Plácido" faz uma homenagem ao paraense agricultor e caçador Plácido José de Souza, que no ano de 1.700 encontrou a pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré, entre pedras lodosas às margens do Igarapé Murutucu - onde se encontra a Basílica -, no tronco de uma árvore. Após o achado, Plácido levou a imagem para a sua choupana e, no outro dia, ela não estava lá. Correu ao local do encontro e lá estava a imagem da Santinha. E o fato se repetiu várias vezes. Plácido, então, construiu no local uma ermida, mas para muito além da história, é na ”Casa de Plácido” que o milagre da fé se corporifica no ritual do lava-pés uma demonstração de humanidade e doação. Por ali passam as caravanas dos romeiros num total de 18 mil pessoas esperadas para o Cirio deste ano de 2025.
Os testemunhos, em lágrimas, podem ser traduzidos nas feridas que os romeiros tem no coração e nos pés.
Impossível conter a emoção diante da devoção do povo paraense pela “Rainha da Amazônia que navegando pelas ruas de Belém, anuncia que é Círio outra vez!"
Numa tentativa de recepcioná-la com a luz do espectro do arco-iris com suas cores a aquarelista paraense Aline Folha, foi convidada a criar a ilustração das peças de comunicação e ativações do Círio para a Vale. Sua obra transita pelos estados emocionais do cotidiano feminino, especialmente pela vivência do maternar, em uma busca por liberdade, acolhimento e possibilidade. A artista imprime em suas criações os rastros do processo artístico, o que evidencia a presença da água e do grafite na relação entre desenho e aquarela, escute no áudio a entrevista com Aline.
Inspirada pelas emoções e sensações vivenciadas nas ruas de Belém durante a procissão, a artista traduziu os cinco sentidos em elementos visuais: o tacacá (paladar), os gritos de “viva, viva” e os fogos (audição), os brinquedos de miriti e a berlinda (visão), o acolhimento materno e a promessa (tato), e os aromas da festa (olfato).
“As minhas principais inspirações vieram das sensações que o Círio provoca em quem o vivencia. Busquei representar esses sentidos aflorados e como eles podem despertar memórias afetivas e coletivas nessa grande festa paraense ”, conta Aline. A arte criada para a Vale incorpora diversos elementos culturais como o tacacá, os brinquedos de miriti, os gritos de “viva, viva”, os fogos de artifício e a figura feminina que acolhe uma criança. “ O principal desafio foi manter o aspecto aquarelado em uma arte que pudesse ser aplicada de formas e tamanhos diversos nas peças da campanha da Vale ”, acrescenta.
Sem dúvida, a obra de Aline Folha reforça a certeza de que ”O Círio não se explica, se vive"
Reconhecida por sua sensibilidade e autenticidade, Aline já foi convidada três vezes (2016, 2017 e 2022) para criar os mantos oficiais do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, maior manifestação cultural-religiosa do Pará. Em 2023 e 2024, foi escolhida por uma empresa para desenvolver as primeiras coleções de louças temáticas da festividade, intituladas Caminhos do Círio e Raízes de Fé projetos que celebram a fé e a identidade paraense com traços delicados e simbólicos.
Aline acredita que o Círio só pode ser representado por quem o vive de dentro com afeto, memória e pertencimento. Sua arte é, portanto, uma celebração da cultura local, dos silêncios e ruídos da fé, e da potência feminina que acolhe e transforma. É um evento que acontece nas ruas, sendo difícil para quem nunca o viveu de fato falar sobre ele ou criar algo autêntico a respeito. Aqueles que vivem a experiência na pele são os mais indicados para representá-la: “É fundamental dar voz e espaço a quem é da região e pode falar sobre sua cultura e celebrações de dentro, com conhecimento e sentimento genuíno”, complementa.