O que é o que é? Tem tradição literária regional, gênero literário em versos, usa temas populares e da cultura popular brasileira, tem linguagem oral, regional e informal, além de ser lido em folhetos vendidos como pequenos livros com capas de xilogravura pendurados em cordas?
É a literatura de cordel, manifestação cultural que tem mais destaque no nordeste. O termo cordel é uma herança portuguesa e chegou ao brasil em fins do século XVIII.
Na Europa começou no século XII em vários países como França, Espanha e Itália e ficou popular no período do renascimento.
Por aqui chegou na Bahia como literatura trazida pelos portugueses, mas logo ganhou características próprias e criou histórias recheadas de humor, ironia ou sarcasmo.
Vale falar do folclore brasileiro, de temas religiosos ou profanos, de artistas, de episódios históricos ou da realidade social. Os autores da literatura de cordel são conhecidos como cordelistas e estima-se que existam cerca de quatro mil escritores de cordel no Brasil.
Entre os cordelistas mais conhecidos estão Patativa do Assaré, Leandro Comes de Barros, Jarid Arraes, Silvino Pirauá, Fábio Sombra, Salete Maria da Silva, Maria Godelivie, Arievaldo Viana Lima e Costa Senna.
Muitos escritores e romancistas foram influenciados por este estilo como João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.
Nessa época do ano, em que as festas juninas tradicionais transitam pelo Brasil, a tradição fala mais alto no nordeste e as histórias se misturam a realidade. Muitos versos são dedicados às festividades que reúnem milhares de pessoas em festas como a da cidade de Campina Grande, na Paraíba.
Reinam as cores e os movimentos das quadrilhas presentes em tantos folhetos da literatura de cordel. O cordelista Juarês Alencar Pereira é um dos talentos que escrevem com a marca popular em seus versos. Ele nasceu em Exu, Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga, o rei do baião. Mora no Tocantins e já lecionou em vários colégios da região. É autor do “Projeto rimas que ensinam”, desenvolvido em escolas da rede estadual e municipal. O projeto já ganhou vários prêmios e tem diversas publicações como “Tributo a Paulo Freire”, “África de todos nós”, “O valor da leitura”, “SOS Amazônia”, entre muitas outras, inclusive dedicadas às tradições brasileiras e suas festas populares. Nessa época do ano ganham destaque os versos que consagram a alegria nordestina de celebrar as festas de junho. E assim tendo o cordel como referência, o nordeste como fonte inspiradora e os versos de Juarês Alencar Pereira que eu termino este Momento Literário de hoje com o cordel festa junina.
Festa Junina
Vou contar nesse cordel
Dá gosto de relatar
Sobre a festa junina
Que é bastante popular
Na europa ela surgiu
De lá veio pro brasil
Para aqui se consagrar.
No nordeste brasileiro
Virou mesmo tradição
Sempre cada vez mais forte
Ganhou nova versão
E de uma festa pagã
Foi transformada em cristã
Em louvor à São João.
Conforme relata a bíblia
E segundo a tradição
Esse uso da fogueira
Tem a sua explicação
Izabel promete avisar
Prima, ao ver fumaça no ar
Foi o nascimento de João.
Antes era conhecida
Como festa joanina
Mas passou a ser chamada
Também de festa junina
Sendo assim ampliada
Ficou logo consagrada
Na cultura nordestina.
Assim junho se transformou
Num mês todo festeiro
Também com Santo Antônio
O santo casamenteiro
Com São Pedro a completar
Esse santo popular
Que do céu é o chaveiro.
Do nordeste se espalhou
E ganhou todo brasil
Em todo canto se ver
Como nunca viu
Está no sul e sudeste
No norte e centro-oeste
Sem perder o seu perfil.
Essa festa tá marcada
Pela grande animação
Tem fogueira e milho assado
Tem foguete e tem balão
Quadrilha pra todo lado
E xote baião e xaxado
Relembrando gonzação.
Tem muita coisa gostosa
Pra todo mundo comer
São pratos deliciosos
Que se tem a oferecer
Canjica, aluar, paçoca
Bolo de milho e tapioca
Muito quentão pra beber.
A grande festa da roça
Tomou conta da cidade
Arraiá pra todo lado
É grande a diversidade
Tem casamento caipira
Que no humor se inspira
Com toda criatividade.