A Rádio Nacional da Amazônia traz o sétimo episódio do especial Identidade Ancestral, que traça um histórico do movimento indígena.
O escritor e ativista socioambiental Ailton Krenak, do povo Krenak, uma das lideranças indígenas nas décadas de 1970 e 1980, lembra que alguns intelectuais chegaram a afirmar que os povos indígenas iriam desaparecer: "O termo extinção era muito comum na literatura, na antropologia e outros textos. Sugerir que nós estávamos acabando". Diante das violações sofridas, lideranças começaram a se aticular em assembleias regionais, que deram origem a um movimento que unificou povos de todo o país.
"Teve movimentos indígenas locais, mas o Brasil nunca teve um movimento indígena como aquele que eu ajudei a criar na década de 70, porque ele é pan-indigenista, ele é pan-índígena, ele é todo mundo junto. Por isso que ele chamava União das Nações Indígenas", pontua Krenak.
Uma das maiores organizações indígenas regionais também surge no final dos anos 1980: a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab): "O que foi pensado pra Coiab em 1989, quando ela foi criada, hoje ela é, né? Defender direito, garantir território e a soberania das nossas comunidades", explica Alcebias Sapará, do povo Sapará, vice-coordenador da entidade.
Outro marco na história do movimento indígena é a criação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em 2005, que surge a partir das representações regionais do movimento: "Essas organizações - já constituídas nas suas regionais - viram a necessidade de unificar essas lutas. Que cada um tem suas especificidades, mas nós sempre tivemos um ponto comum, que era a luta pelos territórios, a luta pelo reconhecimento e implementação dos direitos, o fortalecimento da nossa cultura, a língua, crença e tradições”, conta Dinamam Tuxá, do povo Tuxá, que faz parte da coordenação-executiva da APIB.
"A entidade se tornou hoje a maior organização indígena do Brasil e uma das maiores do mundo. E com poder de articulação e mobilização, né? Que nós temos hoje. Que se soma ainda, se somando aí um milhão e meio de indígenas, 274 línguas, 305 povos. E essa diversidade, que é a maior diversidade em termos de povos do mundo, em um único país".
Ouça no player acima o episódio na íntegra.
Em formato de podcast, a primeira temporada do Identidade Ancestral contou com 13 episódios, que estão disponíveis site das Rádios EBC (clique para ouvir). Os episódios falaram sobre os povos indígenas antes e em 1500, violência e resistência, demarcação de terras, retomada territorial, desintrusão, movimentos indígenas, indígenas na política, indígenas em contexto urbano, indígenas isolados ou sem contato, línguas indígenas, uso das tecnologias, influenciares e comunicadores indígenas e expressões artísticas dos povos indígenas.
Este episódio teve depoimentos de (por ordem alfabética):
Ailton Krenak, do povo Krenak, de Minas Gerais, é ativista, ambientalista, escritor, filósofo e uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro. É Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB). Foi um dos fundadores da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas e fez parte da Assembleia Nacional Constituinte. Venceu o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, promovido pela União Brasileira de Escritores. É autor de obras como "Ideias para adiar o fim do mundo", "O amanhã não está à venda" e "A vida não é útil". Em 2023, foi eleito para ocupar cadeira de número 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se o primeiro indígena a se tornar um imortal da Academia.
Alcebias Sapará, do povo Sapará, de Roraima, é vice-coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Jovem liderança indígena, esteve à frente do Núcleo da Juventude Indígena de Roraima, do Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Dinamam Tuxá é advogado indígena do povo Tuxá, da Bahia, e faz parte da coordenação-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) pela Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). Ele também é mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), e é doutorando em Direito pela mesma universidade.
Ficha técnica:
- Roteiro, produção, entrevistas e edição: Nathália Mendes
- Sonoplastia: Messias Melo
- Conceito: Tânia Cerqueira
- Trilha sonora: Marcus Viana
- Coordenação: Taiana Borges