As chamadas comunidades terapêuticas deveriam prestar serviços para tratar pessoas com dependência química e reintegrá-las à vida social. Mas o relatório apresentado nesta segunda-feira (18), em Brasília, constatou que o papel de algumas dessas instituições passa longe do objetivo.
O levantamento foi feito pelo Ministério Público Federal, Conselho Federal de Psicologia e pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, do Ministério dos Direitos Humanos.
No ano passado, o grupo vistoriou 28 comunidades terapêuticas, em 11 estados e no Distrito Federal. Quem comenta o resultado da inspeção é a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat.
"Foram todos reprovados porque estão fora dessa noção de inserção na comunidade, fortalecimento dos laços de vizinhança e de atividades produtivas. São instituições que trabalham com a ideia de que a pessoa tem que ficar distante por um determinado período de tempo. É a lógica do manicômio", explica a procuradora.
As irregularidades vão desde a internação de crianças e adolescentes, até a exploração dos internos em trabalhos semelhantes à escravidão. Em uma das comunidades, em Minas Gerais, o grupo encontrou uma criança de 11 anos internada. E, em outro caso, as pessoas que deveriam estar em tratamento passavam o dia trabalhando na obra de reforma da casa da responsável pela comunidade terapêutica, sem qualquer contrato formal de trabalho.
Os internos também relataram que quase não conseguiam manter contato com o mundo exterior, porque as visitas e o acesso a TV e rádio só eram permitidos em alguns casos.
Das 28 comunidades terapêuticas visitadas, apenas duas tinham laudos médicos que autorizavam internações. E menos da metade possuía alvará sanitário válido. O perito Lúcio Costa, do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, destacou que é uma prática comum usar remédios para dopar os pacientes, em vez de tratar doenças.
O relatório destaca ainda que, quando se trata de liberdades individuais, as comunidades terapêuticas desrespeitam a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Isso porque os locais visitados não preservavam a liberdade religiosa nem respeitavam a orientação sexual dos pacientes.
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