O estudo "Primeiríssima Infância - Interações na Pandemia: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos em tempos de Covid-19" foi produzido pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, com apoio da Porticus América Latina. Para conversar sobre esse assunto, o Tarde Nacional – Amazônia trouxe a CEO da Fundação, Mariana Luz.
Segundo ela, a pesquisa é uma repetição de um estudo realizado no mesmo período do ano de 2020, que trouxe algumas informações importantes sobre esses relacionamentos e a importância da interação entre pais e filhos para o desenvolvimento das crianças. A pesquisa realizada neste ano foi produzida em março de 2021, onde foram ouvidos homens e mulheres de todo o país, componentes de todas as classes sociais, e com idades entre 16 e 75 anos. Ao total foram ouvidas em torno de mil pessoas.
A segunda pesquisa foi realizada pelo surgimento da necessidade de avaliar um cenário pós-pandêmico, para que fosse incluso o impacto da pandemia nessas relações, a fim da comparação entre os estudos. De acordo com Mariana, para a produção da pesquisa foi necessário entender a dinâmica das famílias, incluindo o tempo de interação, as rotinas, brincadeiras, os sentimentos, analisando o dia a dia das famílias. Mariana explica que é possível observar no resultado, grande diferença entre as classes sociais e que a pandemia teve um peso significativo principalmente para as classes mais desfavorecidas, como a classe D.
“Eu acho que essa pandemia foi uma verdadeira situação de descontrole para todo mundo. Cada família vive uma realidade. E o que pesquisas como essa podem trazer são oportunidades para a gente olhar para essa realidade tal qual ela é, e entender. E a partir desses entendimentos, fazer uma priorização para quem mais precisa e garantir que a gente está assegurando os direitos de todas as nossas crianças, mas especialmente aquelas que estão em situação de vulnerabilidade”, observa a pesquisadora.
Na entrevista, a CEO aponta ainda que o maior desafio baseado nesses resultados é trabalhar as desigualdades e promover uma sociedade mais equânime de oportunidades para as crianças, uma vez que em situações tão dramáticas como a pandemia, essas crianças não terão como alimentar-se e desenvolver-se.
A pesquisa avaliou que para a Classe D foi constatado maior sentimento de estresse, fadiga e exaustão. Também foi possível observar maior regressão de comportamento das crianças, indicando problemas no desenvolvimento destas. Outro dado que a pesquisa traz, é que para as classes mais favorecidas, como A e B, a pandemia gerou oportunidade de mais tempo de convivência com as crianças. Então quem teve a oportunidade do isolamento social, sendo transferido para o trabalho remoto, pode-se identificar maior tempo de interação. Mas para as desfavorecidas, não houve alteração no tempo de convivência, pela falta de oportunidades da realização do trabalho remoto.
Sobre essas dificuldades, ela aponta que a principal necessidade é que a criança esteja cuidada e que sejam cumpridos todos os direitos básicos. Mariana aconselha que essas famílias recorram às suas redes de apoio e compartilhem suas dificuldades.
“O direito da criança é constitucional, não é um favor, é um direito que precisa ser assegurado e que está previsto na constituição, é um dever de todo cidadão brasileiro. A gente precisa mudar essa visão de que a criança é só responsabilidade do pai e da mãe, não é, ela é responsabilidade de todos nós”, pontua Mariana.