Em entrevista ao Tarde Nacional desta quinta-feira (10/05), a psicóloga Olívia Morgado Françozo, que é integrante da Equipe Clínico-Politica do Rio de Janeiro, falou sobre o trabalho voltado para a reparação psíquica e o atendimento para pessoas afetadas pela violência de Estado. Ela é coordenadora do Centro de Estudos em Reparação Psíquica (CERP), que atua junto ao Instituto de Estudos da Religião (ISER), que, desde a década de 70, trabalha pela defesa e pela garantia de direitos, segurança pública, meio ambiente, diversidade religiosa, entre outras lutas.
O foco da entrevista foi o resultado da atuação do grupo Unidas Pela Dor, que reúne mães que perderam seus filhos, seja por balas que comprovadamente saíram de armas de policiais ou de bandidos em confrontos e tiroteios em regiões onde cotidianamente acontece a guerra que combate o tráfico de drogas e o crime organizado na cidade do Rio de Janeiro. Sobre a violência na cidade do Rio ela fala: "chegou num nível de banalização que a gente nem discrimina mais o que é uma violação de direito e o que não é".
Logo no início da entrevista a gente descobre que um trabalho pioneiro, o projeto Clínicas do Testemunho, que acontecia desde 2013, prestando atendimento psíquico para vítimas da Ditadura Militar, amparado pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, não teve sua continuidade confirmada para 2018. Só no Rio são aproximadamente 200 pessoas que estão desamparadas. O projeto ainda acontecia em cidades como São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre, mas não se concretizou como uma política pública permanente.
O Unidas Pela Dor é um trabalho realizado em grupo, prioritariamente com as mulheres, já que, segundo Olívia, "a gente sabe que hoje em dia quem mais morre no Rio de Janeiro são os homens pretos e periféricos, então as mulheres são as que sobram, num certo sentido, para fazer esse luto e seguir com a luta". Quebrada a resistência ao acolhimento, essas mulheres passam a confiar no trabalho do grupo, onde elas podem falar, serem escutadas e não serem julgadas. "São situações tão dramáticas e tão graves, que ficam silenciadas", explica Olívia.
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