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Pesquisa revela efeitos da violência na saúde mental de moradores de comunidade

O estudo tem como desdobramento a 1ª Semana de Saúde Mental da Maré, a #RemaMaré, que vai até sábado (28)

No AR em 24/08/2021 - 18:16

Uma pesquisa inédita aponta que 1/3 dos moradores do Complexo da Maré, que reúne 16 favelas na cidade do Rio, tiveram a saúde mental afetada pela violência. O estudo mostra que pessoas em situações de violência são mais vulneráveis ao sofrimento mental. O medo de que alguém próximo seja atingido por arma de fogo, por exemplo, chega a 71% dos entrevistados. Estresse pós-traumático, ansiedade, depressão e tentativas de suicídio são alguns dos transtornos frequentes.

Em entrevista no Tarde Nacional desta terça-feira (24), Paul Heritage, um dos coordenadores da pesquisa “Construindo Pontes: uma investigação sobre saúde mental, violência, cultura e resiliência na Maré”, liderada pela organização inglesa People’s Palace Projects e pela ONG Redes da Maré, falou sobre o trabalho, que foi realizado entre 2018 e 2020, com 1.411 moradores acima de 18 anos, tendo como desdobramento a 1ª Semana de Saúde Mental da Maré, a "Rema Maré", que acontece entre os dias 23 e 28 de agosto.

Além de ser um dos coordenadores do estudo, Paul é professor de Drama e Performance da Queen Mary, University of London, Diretor Artístico da organiuzação People’s Palace Projects e está dirigindo um espetáculo com jovens artistas da Maré, pelo evento Semana de Saúde Mental – Rema Maré. A saúde mental é um problema global, mas, no Complexo da Maré, a situação é ainda pior, "é um problema muito grande, muito sério, por causa dessas violências físicas, por causa desses medos, por causa dessas experiências da violência armada que eles vivem aqui", conta ele. "A gente quis saber qual o impacto (da violência) na vida das pessoas", completa Paul Heritage, durante a conversa com Luciana Valle.

A pesquisa, realizada nas 16 favelas que formam o Complexo da Maré, com entrevistas quantitativas e qualitativas, inclusive com moradores de rua e frequentadores de zonas de usuários de drogas, fez as seguintes indagações: Como vai a saúde mental dos moradores de favelas? Quais os efeitos dos conflitos armados, tão frequentes nestas comunidades, sobre seu equilíbrio e sua saúde física? E quais os recursos e estratégias que ajudam essas pessoas a cuidar da sua segurança e do seu bem-estar?

Os resultados, de extrema contundência, revelam que os moradores da Maré passam por situações limites de violência, como estar em meio a tiroteios ou testemunhar assassinatos, com muita frequência. Grande parte dos moradores diz que vive permanentemente com medo de sofrer e testemunhar atos violentos, algo que faz parte de uma rotina angustiante. De acordo com o estudo, a maioria da população (63%) sente medo (sempre ou muitas vezes) de ser alvejada por uma arma de fogo na Maré. Um número ainda maior (71%) sente medo constante (ou muitas vezes) de que alguém próximo seja atingido. O temor da violência armada – que muitas vezes incluem equipamentos de guerra como granadas e fuzis - acompanha diariamente a maioria dos moradores.

Ouça a entrevista na íntegra clicando no player.

Desdobramento do processo de realização da pesquisa, que durou três anos, a 1ª Semana de Saúde Mental – Rema Maré vai acontecer entre os dias 23 e 28 de agosto e conta com diversas atividades culturais, debates e intervenções nas diferentes favelas que compõem o Complexo da Maré. Na programação estão diferentes ações e atividades artísticas e culturais decorrentes do projeto Construindo Pontes.

 

Criado em 24/08/2021 - 18:59