Apresentador, cantores e orquestras em transmissão ao vivo de um salão frequentado pela elite carioca. Era o programa Ritmos do Copacabana Palace, que estreou na segunda metade dos anos 1940. Na década seguinte, passou a se chamar Ritmos da Panair.
No fim dos anos 40 e começo dos anos 50 do século passado, os brasileiros mais ricos e mais poderosos do país frequentavam a noite do Rio de Janeiro no Centro, em Copacabana, na Gávea e na Urca, locais em que surgiram as mais conceituadas boates de época. O jornalista e escritor Ruy Castro acaba de lançar um livro sobre esse ambiente. Ele pesquisou principalmente o gênero que floresceu nessa época: o samba-canção. Trata-se do livro “A noite do meu bem”, da Editora Companhia das Letras. A publicação traz à tona histórias de personagens cariocas, como músicos, cantores e cantoras, empresários, diretores, maestros e políticos.
Nas boates Vogue, Saint Tropez, Night and Day, Monte Carlo, Zumzum, foram revelados ou consagrados importantes nomes da música. Mas o lugar onde tudo era muito caro e exclusivo - além do Vogue, na Avenida Princesa Isabel - era a boate Meia-Noite, no Copacabana Palace Hotel. O programa "Ritmos do Copacabana Palace" fez o ouvinte da Rádio Nacional se sentir "transportado", nos finais de noite, para aquele ambiente luxuoso.
Ouvindo o programa, podemos imaginar todo o glamour de uma época. Dançava-se coladinho, os casais eram muito bem vestidos, os cabelos bem cortados e arrumados, usavam-se saltos altos e perfumes franceses. As pessoas que não tinham dinheiro para frequentar a noite, nem beber uísque ou champanhe, podiam ficar em casa e ouvir a orquestra e os cantores prediletos. Quem não tinha dinheiro para saborear o filé mais caro da cidade, dava o seu jeito com algo mais simples e em família.
A Revista do Rádio decidiu confortar suas leitoras com reportagens que diziam que aquela farra milionária iria acabar um dia. Em 1960, com a transferência da Capital para a Brasília, ocorreu esse golpe quase mortal que fez com que a maior parte do funcionalismo público abandonasse o Rio de Janeiro - e, consequentemente, as boates cariocas - para viver no Planalto Central.
O programa "Ritmos do Copacabana Palace" foi apresentado, na segunda metade dos anos 1940, por Aurélio de Andrade, Jorge Curi e outros grandes nomes da Rádio Nacional. Nos anos 1950, já como "Ritmos da Panair", era apresentado por Ribeiro Martins e, posteriormente, por Murilo Nery.
Ivon Curi, Nuno Roland, Helda Mayder, Carmélia Alves, Dóris Monteiro, Jorge Goulart, Nora Ney, Nelson Gonçalves, Dick Farney, Helen de Lima e Yolanda Simões eram alguns dos famosos cantores que se apresentaram ao vivo nas transmissões realizadas diretamente do hotel. Eles se revezavam ao microfone em diferentes apresentações, das 23h30 à meia-noite e trinta, horário do programa.
Com colaboração de Rose Esquenazi (www.radionahistoria.blogspot.com.br), professora da Faculdade de Comunicação da PUC-RJ, o quadro 'O rádio faz história' do programa Todas as Vozes desta segunda-feira (22), mostra trechos da edição de 5 de dezembro de 1947 do programa "Ritmos do Copacabana Palace". Vale ouvir também, no final do áudio, o curioso encerramento da programação de cada dia da Rádio Nacional. Naquela época, a maioria das emissoras não funcionava na madrugada. Na rádio líder absoluta de audiência na época, o locutor anunciava: "voltaremos às 6h50". Atualmente, com a vida já agitada nas cidades a partir das cinco horas da manhã, seria impensável uma emissora de ponta não ficar no ar nas 24 horas do dia. Imagine uma rádio líder de audiência retornar ao ar somente às 6h50.
Confira, no player, o áudio completo da conversa de Marco Aurélio com a professora Rose Esquenazi.
O programa Todas as Vozes vai ao ar sempre de segunda a sexta-feira, de 7h20 às 10h, na Rádio MEC AM do Rio de Janeiro - 800 kHz, com apresentação do jornalista, professor e radialista Marco Aurélio Carvalho.