Nélida Piñon deixa testamento literário inédito em "Os rostos que tenho"

Uma das maiores escritoras da Língua Portuguesa, Nélida Piñon, sabia que a arte é maior que o tempo. Meses antes de morrer, em 2022, ela concluiu o livro que seria seu testamento literário. Agora, chega ao público o livro "Os rostos que tenho" (Ed. Record), com 147 textos curtos, que lembram a estrutura de um diário, nos quais ela trata de assuntos que atravessaram sua vida.

O Arte Clube recebe o editor de Nélida, o escritor Rodrigo Lacerda. Ele conta em qual momento da vida Nélida escreveu o livro, fala dos principais temas abordados na publicação e quais lições guarda do convívio com a genial escritora.

No livro, Nélida Piñon fala sobre sua obra, do seu processo de criação, dos desafios da carreira de uma mulher escritora, de grandes amizades, como Clarice Lispector, García Marquez, Susan Sontag, Rubem Fonseca, entre outros, seu amor à vida e suas reflexões sobre a morte e sobre Deus.

Nascida no Rio de Janeiro em 1937, Nélida Piñon estreou em 1961 com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo. Ao longo da carreira, colaborou em publicações nacionais e estrangeiras, proferiu conferências em diversos países e foi traduzida para inúmeras línguas. Foi catedrática da Universidade de Miami e deu cursos em diversas universidades, entre elas Harvard, Columbia, Johns Hopkins e Georgetown. Vencedora dos mais prestigiosos prêmios de literatura no Brasil, ganhou no exterior os prêmios Juan Rulfo, do México; Jorge Isaacs, da Colômbia; Gabriela Mistral, do Chile; Rosalía de Castro e Menéndez Pelayo, da Espanha; e Vergílio Ferreira e Lusofonia, em Portugal. 

Em 2005, pelo conjunto de sua obra, recebeu o importante Prêmio Príncipe de Astúrias. Foi doutora honoris causa das universidades Poitiers, Santiago de Compostela, Rutgers, Florida Atlantic, Montreal, UNAM e PUC-RS. Em 1989, foi eleita para a Academia Brasileira de Letras e, em 1996, por ocasião do centenário da ABL, tornou-se a primeira mulher a presidi-la. Em 2012, foi nomeada Embaixadora Ibero-Americana da Cultura. Faleceu em 2022, aos 85 anos, em Lisboa.