A vendedora Neide Santos, de São Paulo, diz que não concorda com o aborto, mas conhece quem já teve que interromper uma gravidez. "Eu conheço uma que já aconteceu isso, dela engravidar e ela vir perguntar pra mim se eu sabia de algum remédio que ela pudesse tomar pra abortar. Aí eu falei que se comprasse ela iria presa".
Neide não está sozinha. Ela é uma entre os 72 milhões de brasileiros que conhecem uma mulher que já abortou, ou seja, quase a metade da população brasileira, 45%.
O dado mostra que, apesar de não parecer, o tema faz parte do cotidiano. A pesquisa a Percepção do Aborto no Brasil, do Instituto Patrícia Galvão foi divulgada nessa segunda-feira (4).
A pesquisa também mostra que metade da população brasileira acha que uma mulher que interrompe a gravidez deve ir para a cadeia, mas só 7% denunciariam essa mulher para a polícia se ela fosse uma amiga ou alguém próximo. Quase a metade, 47%, simplesmente não faria nada.
Outros dados da pesquisa mostram que 67% dos brasileiros, quase sete a cada 10, é favorável ao aborto caso a mulher tenha ficado grávida vítima de um estupro. 61% também concordam com a interrupção da gravidez em caso de risco de morte da mulher durante a gestão ou no parto e metade se o feto for diagnosticado com alguma doença grave e incurável, como quando a mulher tem zika.
O resultado vai na contramão do projeto de emenda à constituição aprovado em uma comissão especial da Câmara dos Deputados que quer acabar com todas as formas possíveis de aborto legal no Brasil.
A pesquisa entrevistou 1.600 pessoas em 12 regiões metropolitanas, e a margem de erro é de 2 e meio pontos percentuais para baixo e para cima. Segundo os números mais recentes da pesquisa nacional do aborto, de 2016, quase 5 milhões de mulheres entre 18 e 39 anos já fizeram pelo menos um aborto.
Ouça o Repórter Nacional (23h30) desta segunda-feira (4) na íntegra:
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