Um poeta que viveu pouco, deixou apenas uma obra publicada e foi impedido pela família de trilhar o caminho da literatura no Brasil: Casimiro de Abreu.
O escritor nasceu em Barra de São João, no Rio de Janeiro, em 1839. Filho de um rico comerciante português, José Joaquim Marques de Abreu, e da brasileira Luíza Joaquina das Neves, ele viveu sua infância na fazenda dos pais em Silva Jardim e dali só saiu aos nove anos para estudar em Nova Friburgo. Desde cedo o menino já demonstrava talento para as letras e sua dedicação aos versos era motivo de conflitos com o pai que queria que o filho seguisse carreira no comércio.
Como os dois não se entendiam, o pai enviou Casimiro de Abreu, na adolescência, para Portugal. O objetivo era que o rapaz se dedicasse ao curso de prática comercial, em Lisboa. No entanto, o que aconteceu, foi exatamente o contrário do que o pai desejava. Casimiro de Abreu passou a se dedicar mais ainda à escrita e nos quatro anos em que passou em Portugal, o jovem escreveu a maior parte de seus poemas.
Em 1859 publicou seu único livro de poemas: Primaveras. Casimiro de abreu se destacou na segunda geração do romantismo. Ele morreu em 1860, aos 21 anos. Super jovem, deixou uma legião de fãs de seus poemas que se tornaram populares como é o caso de Meus oito anos, em que ele descreve a saudade da infância.
Meus Oito Anos
Casimiro de Abreu
Oh! que saudades que tenho
Da aurora de minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância
Oh! meu céu de primavera
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa, aberto o peito,
- Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras.
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira mar;
Rezava as Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
.....................
Ah que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores –
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais!