Neste Momento Literário, Katy Navarro comenta a obra da psicóloga e poetisa Margarete Schiavinatto.
A autora sempre participou de projetos literários e voluntários, rodas de leitura de prosa e poesia, encontros da psicologia e reuniões com outros poetas. Descobriu o gosto pela poesia ainda adolescente, lendo poetas em livros usados que comprava.
Seu primeiro livro, de poemas, foi publicado em 1996: Sobrevir. Nove anos depois, ela publicaria o segundo livro com um título intrigante e instigante: A pequena ópera do sentido. O livro, de tamanho pequeno, é simples, mas cresce e se agiganta à medida que o leitor voa por suas páginas como se fosse convidado a participar da ópera prometida. Dedicado às Adélias e Cecílias, numa alusão clara às escritoras famosas da nossa literatura. A obra é dividida em dois movimentos. o primeiro é apresentado por um fragmento do poema Esquisito de Adélia Prado. Nessa parte, Margarete Schiavinatto fala da infância e adolescência. No segundo movimento, há um fragmento do poema Desenho de Cecília Meireles. Nessa parte, Margarete não teme falar da dor e de seus próprios sofrimentos.
Entre prosa e poesia, Margarete cativa principalmente pela simplicidade das palavras e temas. Mesmas palavras que ela enaltece e tenta descrever no poema que encerra este Momento Literário:
Das medidas e do tamanho
trato palavras como gestos que me salvam
não trato palavras
nas medidas metálicas
aço exato
tampouco trato palavras
nas medidas circunstanciais do calor
dilatadas
recolhidas
inconstantes
trato palavras como gestos necessários
aqueles que me salvam,
me resgatam do cotidiano,
do tempo medido nos ponteiros
ingrato
trato palavras
como fragmentos de poemas
à procura de um restaurador.