Um dos principais nomes da luta antirracista no século XX é o do intelectual, artista, professor, escritor e poeta Abdias Nascimento.
Historiadores apontam que ele foi influência para militantes do movimento negro que a partir da década de setenta entraram nos meios acadêmicos, e assim, ao invés de verem suas histórias serem contadas apenas por acadêmicos brancos, começaram eles mesmos a pesquisar e escrever sobre sua própria história, assim como Abdias Nascimento o fez de forma corajosa.
Nascido em 14 de março de 1914, em Franca, São Paulo, Abdias Nascimento é considerado um dos maiores expoentes da cultura negra e dos direitos humanos no Brasil e no mundo. Chegou a ser indicado de forma oficial ao Prêmio Nobel da Paz de 2010.
Fundou o Teatro Experimental do Negro, o Museu de Arte Negra e o Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-brasileiros.
Sua obra escrita reune ensaios, obras históricas e textos relacionados à sua luta. Destaque para publicações como “O genocídio do negro brasileiro”, “O quilombismo: uma alternativa política afro-brasileira”, “Sortilégio ii: mistério negro de zumbi redivivo” e “Axés do sangue e da esperança: orikis”, obra de 1983 que é considerada um marco na literatura afro-brasileira.
Abdias Nascimento morreu em 2011, aos 97 anos. O homem da palavra como força de luta deixou um legado que inclui grande obra de pesquisa e literária, além de um nome que inspira as novas gerações. Seus poemas traduzem sua garra, como este:
O sangue e a esperança
corre corre o sangue nas veias
rola rola o grão das areias
só não corre só não rola a esperança
o negro órfão que só corre e cansa
cansa do eito corre das correntes
corre e cansa do bote das serpentes
só não corre só não cansa de amar
o amor da mãe-áfrica no além-mar
além-mar das águas e da alegria
mar-além do axé nativo que procria
aqui é o mar-aquém do desamor frio
aquém-mar do ódio do destino sombrio
sombrio corre o sangue derramado
no mar-aquém de tanta luta devotado
mas o sangue continua rubro a ferver
inspirado nos orixá que nos faz crescer
crescer na esperança do aquém e do além
do continente e da pele de alguém
lutar é crescer no além e no aquém
afirmando a liberdade da raça amém