É do Maranhão o primeiro escritor profissional do Brasil e o primeiro a viver durante o período como autor, exclusivamente da literatura que produzia. Aluísio Azevedo nasceu em São Luís no dia 14 de abril de 1857.
Aos 14 anos foi estudar pintura no Liceu Maranhense e aos 19, foi levado pelo irmão, o teatrólogo e jornalista Artur Azevedo para o Rio de Janeiro.
Seu romance “O mulato” marca o início do movimento naturalista no Brasil, por isso Aluísio Azevedo é considerado o fundador desse movimento que tem uma linha forte de observação e experimentação sobre os assuntos abordados.
Outro de seus livros, “O cortiço”, é considerado uma obra prima da literatura brasileira. Na publicação, o autor retrata o crescimento da população no Rio de Janeiro e o surgimento de moradias pobres e insalubres, denominadas cortiços.
O homem conhecido por criar o naturalismo brasileiro deixa um legado de obras que registram a desigualdade social e os sofrimentos diante do preconceito racial e das minorias. Deixa nas letras sua crítica em um tempo que parece sobreviver ao próprio tempo e nas descrições de suas páginas descortina o que está longe de ser só uma história de ficção.
Katy Navarro termina este Momento Literário com um trecho de “O cortiço”:
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. as pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. de alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.”