A chegada da primavera no hemisfério sul marca também a entrada da chamada estação das flores. É o tempo do perfume que exala no ar e do colorido das pétalas numa variedade de tamanhos e formas que inspiram poetas.
Não é à toa que há muitos poemas dedicados às flores ou autores que as escolhem como personagens e cenário para suas histórias. Machado de Assis fala de flores para falar de amor no poema "Livros e flores":
teus olhos são meus livros.
que livro há aí melhor,
em que melhor se leia
a página do amor?
flores me são teus lábios.
onde há mais bela flor,
em que melhor se beba
o bálsamo do amor?
Já Carlos Drummond de Andrade tem no poema "Maneira de amar', a história do amor que um jardineiro sente por suas flores e como o girassol amava de forma diferente:
O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião. O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma, e mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido?” “Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava”.
Clarice Lispector chama a atenção para as flores dentro de vasos ou jarras e como elas podem sofrer em segredo sem nem sabermos, no poema intitulado "Teu segredo":
Flores envenenadas na jarra. Roxas, azuis, encarnadas, atapetam o ar. Que riqueza de hospital. Nunca vi mais belas e mais perigosas. É assim então o teu segredo. Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que já sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu. Assim como tu és o meu.
O escritor português José Saramago diz no poema "Química" que os jardins são mais lindos quando as pessoas são mais felizes.
Sublimemos, amor, assim as flores
no jardim não morreram se o perfume
no cristal da essência se defende.
passemos nós as provas, os ardores:
não caldeiam instintos sem o lume
nem o secreto aroma que rescende.
Castro Alves nos brinda com o poema "A duas flores!"
são duas flores unidas
são duas rosas nascidas
talvez do mesmo arrebol,
vivendo no mesmo galho,
da mesma gota de orvalho,
do mesmo raio de sol.
unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
de um passarinho do céu…
como um casal de rolinhas,
como a tribo de andorinhas
da tarde no frouxo véu.
unidas, bem como os prantos,
que em parelha descem tantos
das profundezas do olhar…
como o suspiro e o desgosto,
como as covinhas do rosto,
como as estrelas do mar.
unidas… ai quem pudera
numa eterna primavera
viver, qual vive esta flor.
juntar as rosas da vida
na rama verde e florida,
na verde rama do amor!
Como vimos, poemas de flores não faltam nas primaveras dos nossos livros e nos versos dos nossos poetas como Augusto Branco, nascido em Porto Velho, Rondônia.
Entre vários de seus poemas sobre flores pinçamos este para encerrar o Momento Literário de hoje: "Pedras e flores".
As pessoas são muito reativas: costumam retribuir exatamente aquilo que recebem. Retribuem o bem com o bem e o mal com o mal. Mas tu, para seres imensamente feliz, procederás diferente:
retribua com flores a todas as pedras que te atirarem. Haverá um momento em que as pedras de teus inimigos acabarão, e assim eles só poderão atirar em você as próprias flores que receberam de ti.