No Dia Mundial do Urbanismo, celebrado neste 8 de novembro, é possível pensar na importância dos espaços na literatura. Há livros com histórias que descrevem a rua, o bairro, a cidade, o estado ou o país dos personagens. As causas e consequencias dos ambientes marcam na memória do leitor os mistérios, aventuras ou romances passados em determinado lugar. Entre muitos, é possível citar “Não verás país nenhum”, de Ignácio de Loyola Brandão. A narrativa se passa no Brasil em um futuro indeterminado. A Amazônia é um deserto e as metrópoles agonizam com o forte calor e a falta de árvores. Só há comida, água e casa para poucos e os pobres sobrevivem do lixo ao redor das cidades. Em “A cidade e as serras”, de Eça de Queiroz, existe um contraste entre a vida na cidade e no campo. Tudo acontece em duas partes. Primeiro podemos ler sobre a vida de Jacinto em Paris, com o avanço da civilização, do progresso, das novas tecnologias e há um vazio interior. A segunda parte mostra o personagem de volta a Tormes, em Portugal, onde ele acha a felicidade. É no campo que ele se orienta, promove melhorias no lugar atrasado e pobre e muda os valores que tinha, priorizando a natureza.
No clássico de Gabriel Garcia Márquez, “Cem Anos De Solidão”, o cenário é a cidade fictícia de Macondo, onde acompanhamos a trajetória de várias gerações da família Buendía. A cidade era um pequeno vilarejo e se desenvolve passando a ser um próspero município. O auge é quando ela se torna a principal produtora de bananas da região, mas uma tragédia vem com uma tempestade fortíssima que inunda Macondo. A cidade desaparece do mapa.
Já na obra de Machado de Assis, o Rio de Janeiro serve como realidade para suas histórias. Um exemplo é a homenagem que ele faz à rua do Ouvidor em “Tempo de Crise, Contos Avulsos” quando escreve no século XX: “A rua do Ouvidor resume o Rio de Janeiro. A certas horas do dia pode a fúria celeste destruir a cidade; se conservar a rua do Ouvidor, conserva Noé, a família e o mais. Uma cidade é um corpo de pedra com um rosto”. Em "Dom Casmurro", Machado de Assis relaciona a cidade com os sentimentos dos personagens. A rua Matacavalos, atual rua Riachuelo remonta a um passado feliz, lugar onde Bentinho conheceu Capitu. Há também uma identidade com o mar carioca, quando um dos capítulos leva o título ciúmes do mar ou os olhos de Capitu são descritos como olhos de ressaca, uma ressaca que iria afogar Escobar, causa do ciúme de Bentinho. E se a gente fala em mar não dá para deixar de lembrar de Jorge Amado e sua exaltação à Bahia em seus romances. A cidade de Ilhéus, a 300 km de Salvador ganhou fama internacional por ser o cenário que inspirou muitos dos seus livros. Em "Gabriela, Cravo e Canela", aparecem o mar, o cultivo do cacau nas fazendas, os coronéis, o povo e pontos como o famoso Cabaré Bataclan onde funcionava uma espécie de local de Entretenimento para esses coronéis quando vinham de suas fazendas para fazer negócios.
Já o poeta Carlos Drummond de Andrade traduziu Minas Gerais e sua Itabira, cidade natal, em muitos de seus versos, como no poema "Confidência do Itabirano":
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…