A poesia de Walmir Ayala está no Momento Literário

O Momento Literário do Antena MEC fala, nesta edição, sobre um dos escritores mais importantes da segunda metade do século XX no Brasil: Walmir Ayala, poeta, romancista, memorialista, teatrólogo, ensaísta, crítico literário e de arte.

O gaúcho de Porto Alegre nasceu em janeiro de 1933. Em 1956 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde produziu peças teatrais, trabalhou como crítico de teatro e se lançou no mundo da literatura infantil e de ficção.

Seu romance mais famoso é À Beira do Corpo, de 1964. Outras obras conhecidas são Poemas da Paixão, Cantata e Partilha de Sombra, além dos infantis Histórias dos Índios do Brasil e A Toca da Coruja.

O autor conquistou o Prêmio Nacional de Literatura Infantil em 1972, o Prêmio Nacional de Ficção em 1973 e o Jabuti em 1981. Walmir Ayala trabalhou ainda como tradutor de obras de escritores como Miguel de Cervantes e Frederico Garcia Lorca.

Ayala morreu no Rio de Janeiro, em agosto de 1991, aos 58 anos. Em 2019, foi publicado o livro póstumo Poemas do Surf.

Ele transitou por vários gêneros, mas encontrou na poesia o eco para suas observações e angústias do cotidiano, a exemplo do seguinte poema:

PENHOR
Quanto pode valer um pássaro
de canto puro e goela solta
que gosta de carícia e se espreguiça
como qualquer amado amante?

O dono levou-o à penhora
por trinta e oito mil
cruzeiros. Diz
que vale o dobro.

Avaliado, não dá mais do que mil e quinhentos
Diz o causídico do banco, e chama de brincadeira
esta causa de tão pessoal alcance.

Falado por seu advogado
o dono do pássaro diz
que o assunto é muito sério
e pede mesmo que o pássaro
seja tratado com carinho
pois cantando e recebendo amor
é que se prova valioso.

Neste poema, atentem, a palavra é tão banal,
mas o miolo é pura
poesia.
Difícil é contar como canta o pássaro.
Aí é que seríamos sublimes.