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Momento Literário traz a poesia de Márcia Kambeba

Márcia Kambeba acredita na missão de levar conteúdo sobre a forma de vida do povo indígena, como maneira de transmitir ao leitor como vivem, onde e como estão os povos originários

Antena MEC

No AR em 05/07/2023 - 18:00

Um trabalho de literatura e música com composições em tupi e em português, além de poesias marcadas pela ancestralidade indígena. A obra de Márcia Kambeba é um misto de histórias e experiências sobre a identidade dos povos indígenas, a representação das mulheres nas aldeias e os territórios. Os poemas de Márcia Kambeba trazem nos versos a força da resistência, como este:

Silêncio Guerreiro

No território indígena

O silêncio é sabedoria milenar

Aprendemos com os mais velhos

A ouvir, mais que falar.

 

No silêncio da minha flecha

Resisti, não fui vencido

Fiz do silêncio a minha arma

Pra lutar contra o inimigo.

 

Silêncio é preciso,

Para ouvir o coração,

A voz da natureza

O choro do nosso chão.

 

O canto da mãe d’água

Que na dança com o vento

Pede que a respeite

Pois é fonte de sustento.

 

É preciso silenciar

Para pensar na solução

De frear o homem branco

E defender o nosso lar

Fonte de vida e beleza

Para nós, para a nação!

 

Márcia Kambeba é do omágua/kambeba, no Alto Solimões, no Amazonas. Nasceu na aldeia Belém Solimões, do povo Tikuna. Hoje, ela vive em Belém, no Pará. É mestra em geografia pela Universidade Federal do Amazonas, a primeira que conquistou esse título na sua aldeia. Trabalha como poeta, compositora, cantora e fotógrafa. Além disso é ativista na defesa dos povos indígenas. Costuma dizer que escreve poesias com um olhar ambiental, geográfico, indígena e cultural visando valorizar a cultura e informações dos povos originários. Sua obra está em várias escolas e é usada como ferramenta de apoio para que as crianças tenham acesso às histórias e à literatura indígena. É autora do livro “Ay kakyri tama – eu moro na cidade”, publicado pela editora Pólen. Acredita na missão de levar conteúdo sobre a forma de vida do povo indígena, como maneira de transmitir ao leitor como vivem, onde e como estão os povos originários. E é com uma descrição de quem ela é que eu termino o momento literário de hoje com este poema.

Ser indígena - Ser omágua

 

Sou filha da selva, minha fala é Tupi.

Trago em meu peito,

as dores e as alegrias do povo Kambeba

e na alma, a força de reafirmar a

nossa identidade

que há tempo fico esquecida,

diluída na história

Mas hoje, revivo e resgato a chama

ancestral de nossa memória.

 

Sou Kambeba e existo sim:

No toque de todos os tambores,

na força de todos os arcos,

no sangue derramado que ainda colore

essa terra que é nossa.

Nossa dança guerreira tem começo,

mas não tem fim!

Foi a partir de uma gota d’água

que o sopro da vida

gerou o povo Omágua.

E na dança dos tempos

pajés e curacas

mantêm a palavra

dos espíritos da mata,

refúgio e morada

do povo cabeça-chata.

 

Que o nosso canto ecoe pelos ares

como um grito de clamor a Tupã,

em ritos sagrados,

em templos erguidos,

em todas as manhãs!

Criado em 03/07/2023 - 19:05 - Episódio Momento Literário - Márcia Kambeba

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