Caderno de Música deste sábado (23) continua a falar sobre os principais sistemas de organização das notas musicais. Nos últimos programas, foram destacadas algumas características do modalismo, do tonalismo e do politonalismo. Nesta edição, o programa abordará as novas fronteiras musicais do século 20, proporcionada em grande parte pela adoção de novas escalas e pelo surgimento do serialismo e do atonalismo.
O sistema tonal e as duras regras de composição impostas na época de sua solidificação, ainda na transição para o período clássico, foram cada vez mais questionados ao longo do tempo. Compositores passaram a se perguntar porque certas notas e caminhos harmônicos eram evitados e até mesmo proibidos. Um exemplo disso foi Wagner que, em seu prelúdio de “Tristão e Isolda”, resolveu extrapolar as possibilidades harmônicas do sistema tonal, utilizando-se de quase todos os principais acordes de cada tonalidade, sem ao menos apresentar o esperado acorde da tônica, que é o principal da tonalidade, provocando uma sensação de instabilidade tonal.
Outro fator que contribuiu com o alargamento das fronteiras do sistema tonal foi o intercâmbio com elementos considerados exóticos de outras culturas não ocidentais que se transformaram em objetos de pesquisa e admiração por compositores como Claude Debussy. Além da escala hexafônica, a escala pentatônica, de cinco notas, também foi largamente utilizada principalmente por remeter a uma sonoridade oriental, uma vez que a escala é muito comum em países como China e Japão.
Mas, todas as iniciativas que vimos anteriormente ainda não representavam um rompimento definitivo com o tonalismo. Foi o compositor Shoenberg que, já no final do século 19, que propôs um novo tipo de organização das notas. Nascia, assim, o serialismo. A música serial, também chamada de dodecafônica, encabeçada por Shoenberg e seus contemporâneos da segunda Escola de Viena, Anton Webern e Alban Berg, objetivava colocar por terra toda a hierarquia entre as notas imposta pelo sistema tonal. Para tanto, Shoenberg elaborou um modelo de construção de escala que aproveitasse todas as 12 notas presentes na escala cromática, incluindo as que não são aproveitadas nas escalas diatônicas de sete notas do tonalismo. Basicamente, o sistema dodecafônico funciona da seguinte maneira: antes de se compor uma música, uma série era criada com as 12 notas e uma nota somente poderia ser repetida durante a música após toda a série ter sido apresentada.
Muitos confundem o serialismo com a música atonal, que é aquela desprovida de qualquer referência ou polarização a uma nota específica. Embora ambos os sistemas tenham as mesmas raízes de questionamento da hierarquia tonal, na música atonal livre não há uma lógica de organização rígida das notas, como a proposta pela série dodecafônica. Aliás, o dodecafonismo foi criado por Shoenberg com a intenção de sistematizar e ordenar a música atonal por meio de uma escala, chamada de série.
Ouça exemplos de músicas atonais e seriais.
Caderno de Música vai ao ar aos sábados, às 11h30, na MEC FM Rio.
Caderno de Música fala sobre o Politonalismo
Caderno de Música fala sobre o tonalismo na música
Caderno de Música inicia série sobre os sistemas de organização da música