A Rádio Nacional da Amazônia traz o terceiro episódio do especial Identidade Ancestral que fala sobre os indígenas que vivem em contexto urbano.

A invisibilização dos indígenas que vivem em espaços urbanos se dá tanto por parte do Estado, quanto da sociedade, pois está ligada às ideias colonialistas de que o indígena é aquele que vive na floresta ou em áreas remotas, longe da civilização.

Segundo Gersem Baniwa, do povo Baniwa e docente do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), os indígenas que vivem nos espaços urbanos sofrem com essa discriminação. “É claro que os indígenas que moram na cidade sofrem ainda mais esse preconceito, porque tem um outro preconceito, que é aquele do dualismo: do tradicional, do moderno, do civilizado, do não-civilizado. Por outro lado, aquele que mora na aldeia, também sofre quando chega aqui, porque é o selvagem, é o próximo do animal”.

Além disso, há uma subnotificação em relação a quatidade de indígenas residentes em espaços urbanos, isso leva a um despreparo das zonas urbanas para agregá-los, e consequentemente, a falta de políticas que favoreçam essa população. Por fim, não foi a aldeia que chegou na cidade, mas a cidade que chegou na aldeia, sendo assim, um dos maiores desafios será o reconhecimento dos direitos indígenas em relação a todos os espaços.

Ao se perpetuar preconceitos, como a falta de reconhecimento da etnicidade do indígena que vive em contexto urbano, nega-se a ele direitos fundamentais como o de ser originalmente quem é, além do direito de ir e vir. Afinal, a cidade é também um local de afirmação da identidade e dos direitos dos povos indígenas, como afirma Gersem Baniwa. "Porque os povos indígenas conquistaram direitos específicos, que são chamados inclusive direitos originários. Nesses direitos, os indígenas que moram em centros urbanos estão completamente excluídos. A Constituição não faz nenhuma, absolutamente nenhuma, distinção entre indígenas de aldeia ou indígenas de terras indígenas reconhecidas e que moram na cidade ou qualquer outro lugar do planeta".

Ouça no player acima o episódio na íntegra.

Em formato de podcast, a primeira temporada do Identidade Ancestral contou com 13 episódios, que estão disponíveis site das Rádios EBC (clique para ouvir). Os episódios falaram sobre os povos indígenas antes e em 1500, violência e resistência, demarcação de terras, retomada territorial, desintrusão, movimentos indígenas, indígenas na política, indígenas em contexto urbano, indígenas isolados ou sem contato, línguas indígenas, uso das tecnologias, influenciares e comunicadores indígenas e expressões artísticas dos povos indígenas.

Este episódio teve depoimentos de (por ordem alfabética):

Gersem Baniwa é do povo Baniwa, do estado do Amazonas (Terra Indígena Alto Rio Negro). É graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas, mestre e doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é docente no Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília.

Ismael Munduruku é cacique do Parque das Tribos (primeiro bairro indígena do estado do Amazonas), na cidade de Manaus. É engenheiro agrimensor, formado na Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Kamuu Dan é do povo Wapichana. Nascido em Roraima, atualmente mora em Brasília. É escritor e contador de histórias indígenas, ativista educador socioambiental e participa de organizações que trabalham com a defesa do meio ambiente e do cerrado, como Terra Azul, Templo de Plantar e Manuru Palnary.

Muriã Pataxó, do povo Pataxó do extremo sul da Bahia, nasceu na aldeia Coroa Vermelha, em Santa Cruz de Cabrália (BA), mas mora em Brasília há 23 anos. É artesã e faz parte do Conselho Indígena do Distrito Federal e da Associação ETNIOKA, que promove ações voltadas para a ecologia, educação, saúde, integração étnica e inserção social de indígenas.

Tolym Nunc-Nfôonro pertence ao povo Laklãnõ e é professora, escritora e pesquisadora. Mora em Blumenau (SC). É formada em Letras pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).