“A função da literatura é criar incômodo”, acredita o escritor carioca Alberto Mussa, 63 anos, entrevistado no programa Roda de Samba produzido pela Rádio Nacional e pela Agência Brasil.
Mussa provoca incômodos ao cruzar as fronteiras da narrativa de racionalidade ocidental para explorar histórias mitológicas indígenas e afro-brasileiras. Desde a sua fundação, no Século 16, o Rio de Janeiro é um lugar para esses encontros, mas também desvios, afastamentos e desconfortos.
Aproximações e distanciamentos estão no fundo do "Compêndio Mítico" ─ coleção de cinco romances policiais escritos por Alberto Mussa sobre crimes relatados em cada século da existência do Rio – e no seu mais recente livro "A Extraordinária Zona Norte" (Editora Todavia, 2024), ambientado nos anos 1970 no Andaraí, bairro fronteiriço da Tijuca, de Vila Isabel e do Grajaú.
No novo livro, Mussa faz ficção a partir de coisas que vivenciou garoto e rapaz e do seu conhecimento sobre samba e outros elementos da cultura híbrida carioca, para elucidar um crime ocorrido na Flor da Mina do Andaraí, bloco de carnaval que se tornou escola de samba. O romance ilustra o surgimento dos grupos de extermínio, que antecedem as milícias.
Alberto Mussa também é autor de "Samba de enredo: história e arte" (2010), escrito com Luiz Antônio Simas, e do ensaio "Meu destino é ser onça" (2009) – livro que inspirou o enredo do desfile de carnaval de 2024 do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio.
O escritor é sobrinho do compositor Didi (Gustavo Baeta Neves), autor dos sambas-enredo antológicos "O Amanhã" e "É hoje" ─ apresentados no desfile de carnaval do Rio de Janeiro de 1978 e 1982, respectivamente, pela União da Ilha do Governador.
Escritores como Alberto Mussa são figuras constantes no programa Roda de Samba, que já entrevistou Manuel Herzog, Paulo Lins e Nei Lopes – este também compositor e estudioso das culturas africanas.