Pesquisadores brasileiros e chineses encontraram mais de 300 ovos e centenas de restos de esqueletos de répteis voadores, conhecidos como pterossauros, na região de Hami, noroeste da China. Trata-se da maior concentração de ovos de vertebrados extintos conhecidos até então. Eles estavam em um bloco com pouco mais de 3m².
Sobre a descoberta, o Tarde Nacional entrevistou o paleontólogo Alexander Kellner, um dos brasileiros integrantes da equipe de pesquisadores.
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O material é procedente de rochas formadas há aproximadamente 100 milhões de anos, período geológico denominado de Cretáceo Inferior, e reúne, além de animais jovens e adultos, os primeiros embriões preservados em três dimensões já encontrados. Apesar de seus fósseis serem encontrados em todos os continentes, a maioria dos achados de pterossauros se restringe a um único exemplar, geralmente composto por apenas parte do esqueleto, como, por exemplo, uma asa incompleta ou um fragmento de crânio.
Segundo Kellner, até a presente data, somente se tinha conhecimento de três embriões: dois da China e um da Argentina, todos preservados compactados. Ele ressaltou o ineditismo e a raridade do material descoberto. O professor também destacou a importância do investimento em ciência e tecnologia pelo governo brasileiro. O estudo, que permite investigar o histórico de vida de um pterossauro, foi publicado com exclusividade pela revista Science.
Mais informações sobre a descoberta
O material foi escavado em rochas que ficam no meio de um deserto, parte do famoso deserto de Gobi. Os ossos não são apenas numerosos, mas estão dispostos em um pacote de rochas de 2,2 metros de altura, distribuídos em oito níveis, cada um representando um tempo diferente. Além disso, a nova descoberta chama atenção pela grande quantidade de animais jovens e adultos encontrados e, sobretudo, pela ocorrência de centenas de ovos! Estes foram encontrados em pelo menos quatro dos oito níveis fossilíferos. Para se ter uma ideia, em apenas um bloco de rochas com 3,28 m2 existem 215 ovos confirmados, sendo que mais de 300 devem estar presentes, muitos ainda escondidos dentro da rocha.
Os ovos desse pterossauro, que recebeu o nome de Hamipterus tianshanensis, eram de casca mole, diferindo do padrão encontrado nas aves (casca dura, mais mineralizada), e se assemelhando mais ao de cobras e lagartos (casca coriácea). Assim, ao contrário dos ovos de dinossauros, eles não quebram, mas sim deformam. Em 16 ovos foram encontrados restos de embriões, o que é extremamente raro. Análises com tomografia computadorizada feitas em alguns ovos demonstraram que nos animais prestes a nascer os ossos vinculados ao voo ainda não estavam bem ossificados, ao contrário dos ossos das pernas. Tal fato indica que os recém-nascidos podiam caminhar mas não podiam ainda voar, sugerindo que os pais deveriam ter que cuidar dos filhotes por algum tempo.
O público poderá conhecer a nova descoberta em uma pequena exposição com réplicas de parte dos achados que ficarão expostas, no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Bairro Imperial de São Cristóvão, Rio de Janeiro. O Museu Nacional é o primeiro museu do Brasil e a mais antiga instituição científica de História Natural e Antropologia do país, que, em 2018, comemora 200 anos de criação.