A Rádio Nacional da Amazônia traz o oitavo episódio do especial Identidade Ancestral, que conta como os povos indígenas ocuparam a política institucional.

Hoje presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana, do povo Wapichana, de Roraima, foi a primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal. Antes dela, o cacique xavante Mário Juruna teve mandato como deputado federal entre 1983 e 1986: "Um desafio meu era ser a única parlamentar indígena no Congresso todo, ser liderança de um partido e somente ser eu. Era a única do partido também, então tive que assumir uma liderança política", lembra.

Sônia Guajajara, do povo Guajajara, do Maranhão, esclarece que, historicamente, os povos indígenas eram contrários ao ingresso na política tradicional, com representantes disputando cargos eletivos: "Mas chegou um momento que nós achamos que seria importante, né?, ter essa voz legítima pra trazer a priorização das pautas indígenas, do meio ambiente, da cultura e dos modos de vida".

Ela, que foi eleita deputada federal pelo estado de São Paulo e atualmente é ministra de Estado, respondendo pelo Ministério dos Povos Indígenas, fala neste episódio sobre os espaços que os povos indígenas estão ocupando dentro dos poderes constituídos: "A gente ter conseguido eleger duas mulheres indígenas vindo do movimento, ter uma bancada do cocar hoje na Câmara, é um grande avanço. A gente ampliar essa bancada do cocar entre o Executivo e o Legislativo também, né? É um passo importante. Que hoje nós estamos com o Ministério dos Povos Indígenas. É um feito inédito, né. Isso em si traz os povos indígenas para o centro do debate público, né? E valoriza esse protagonismo".

Ouça no player acima o episódio na íntegra.

Em formato de podcast, a primeira temporada do Identidade Ancestral contou com 13 episódios, que estão disponíveis site das Rádios EBC (clique para ouvir). Os episódios falaram sobre os povos indígenas antes e em 1500, violência e resistência, demarcação de terras, retomada territorial, desintrusão, movimentos indígenas, indígenas na política, indígenas em contexto urbano, indígenas isolados ou sem contato, línguas indígenas, uso das tecnologias, influenciares e comunicadores indígenas e expressões artísticas dos povos indígenas.

Este episódio teve depoimentos de (por ordem alfabética):

Dinamam Tuxá é advogado indígena do povo Tuxá, da Bahia, e faz parte da coordenação-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) pela Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). Ele também é mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), e é doutorando em Direito pela mesma universidade.

Joênia Wapichana é advogada, do povo indígena Wapichana, de Roraima. É bacharel em Direito pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e mestre em Direito Internacional pela Universidade do Arizona (EUA). Foi a primeira mulher indígena a se tornar advogada na história do país, e também foi a primeira indígena a fazer uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal, durante o julgamento da homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Foi deputada federal pelo estado de Roraima entre 2019 e 2022, pelo Rede Sustentabilidade. Atualmente, é presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), sendo a primeira indígena a ocupar o cargo.

Sônia Guajajara, do povo Guajajara, é formada em Letras e em Enfermagem - ambas graduações pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). É pós-graduada em Educação Especial. Atuou em várias organizações indígenas, sendo vice-presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e é uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Foi a primeira indígena a compor uma chapa presidencial, ao lado de Guilherme Boulos. Foi eleita deputada federal pelo estado de São Paulo para a legislatura 2023-2027 pelo PSOL, estando licenciada do mandato para assumir o cargo de ministra de Estado dos Povos Indígenas. Em 2022, foi apontada como uma das 100 pessoas mais influentes do ano pela revista Time.