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Fórum de Mulheres do DF lança nota em apoio à mulher que denunciou estupro

Jovem de 24 anos relatou nas redes sociais ter sido estuprada em festa

Na certeza que entre todas as formas de violência contra as mulheres, o estupro é a manifestação mais perversa de discriminação, Viva Maria hoje (2) assina a nota que o Fórum de Mulheres do Distrito Federal acabou de divulgar em apoio a uma jovem de 24 anos que afirma ter sido vítima desse crime na festa de réveillon da The Box, em Brasília.

 

A assistente social Clementina Bagno, militante do Fórum de Mulheres do Distrito Federal tem os detalhes sobre a construção do documento. Vamos ouvir a opinião de Clementina sobre o caso.

 

Ouça a entrevista sobre este assunto clicando no player.

 

No dia seguinte à festa, a mulher relatou nas redes sociais que havia sido violentada por um segurança do evento. Leia, na íntegra, o relato da vítima:

 

"A festa estava horrível, então meia hora antes da virada decidi ao menos “aproveitar” o open bar, assim fiz.

Era mais de meia noite, eu estava dançando com um amigo perto da entrada quando fui abordada por um dos seguranças, que me coagiu a sair da festa, eu realmente não entendi o motivo e mesmo alcoolizada só atendi por ser uma figura de autoridade do local. Havia uma área de terra onde alguns carros estavam estacionados entre o cerrado. Eu estava completamente vulnerável, com muito medo. Um dos carros estava estacionado de ré para o cerrado, então atrás do carro só havia vegetação. Ali ele me virou de costas e sem a menor cerimônia me estuprou. Eu fui estuprada por quem deveria assegurar minha segurança. Eu tive medo, não reagi (poderia ter sido pior se reagisse, eu poderia apanhar, poderia demorar mais...), só queria que acabasse logo. Quando ele terminou mandou eu ficar lá, mais uma vez tive medo e não me movi. Ele voltou com outro segurança e disse: “Tá aí, cara, manda ver”. Não consigo descrever o que senti na hora. Ele saiu, eu fiquei com o outro segurança e perguntei porque ele iria fazer aquilo comigo também, acho que ele se assustou e disse que não ia fazer nada, respirei fundo e voltei pra festa num misto de pavor e dormência. Não contei nada pra ninguém. Me questionei se eu não tinha “pedido por aquilo”, olha que ridículo! É assim que somos ensinadas. A culpa sempre é atribuída à mulher. O dia amanheceu, fui pra casa com meu amigo, eu não conseguia ainda assimilar os fatos. Só pensei que não podia banhar, deitei e tentei dormir. Foi um sono inquieto, eu sentia dores internas, e comecei a lembrar de algumas frases que usamos na militância: “moça, a culpa não é sua”, “não ensine meninas a não serem estupradas, ensine meninos a não estuprarem”. Decidi levantar e tirar o absorvente interno (sim, durante o estupro eu estava usando absorvente interno), acontece que eu não consegui. Fiquei mais de uma hora pensando no que fazer, entrei em contato com um grupo de apoio à vítimas de crimes sexuais ao qual faço parte, fui ouvida e mesmo assim... Eu estava desnorteada! Não queria contar pra ninguém, estava com vergonha, me sentindo suja, culpada... Quando num ímpeto saí do quarto e falei com o meu pai um seco: “pai, eu fui estuprada”. Temos quatro cachorros, ele estava lavando a área, parou na mesma hora, esperou minha mãe sair do banho, contou pra ela. Fomos imediatamente à Delegacia da Mulher, eu sequer comi. Saímos de casa por volta de 12h. Ficamos aproximadamente quatro horas na delegacia, foi uma situação extremamente constrangedora, tive que repetir a história várias vezes e reviver aquele momento. Fui encaminhada ao IML e ao hospital da Asa Sul pela delegacia. O médico do IML não conseguiu tirar o absorvente interno, meu desespero só aumentava. Cheguei ao hospital e fui atendida por uma médica extremamente empática, finalmente me senti um pouco menos desconfortável, ela me tratou tão bem! Ela me consultou e tirou o absorvente, o que apesar de ter doído muito porque minha vagina está realmente bastante machucada, foi um alívio. Tomei uma Benzetacil em cada lado (sim, foram duas), remédio na veia, mais algumas doses únicas de remédio (via oral) e, o que me abalou muito: iniciei a tomar o coquetel para AIDS (são 28 dias tomando esses remédios fortíssimos, que causam enjoo, vômito e diarreia). Colhi sangue também. Cheguei em casa à noite, exausta, faminta... Até que minha irmã chegou e eu finalmente consegui chorar.

 

Eu sei que é muita exposição, mas, sinceramente?! Não é pior ao o que me aconteceu. Decidi redigir esta nota de repúdio por alguns motivos específicos: eu fiz tudo como orienta a lei, tudo certinho, e uau!!! Quanta burocracia! A delegacia, o IML e o hospital ficam completamente distantes um do outro, eu estava de carro, acompanhada, mas e a mulher que não tem nenhuma assistência como faz? Ela não faz, ela desiste. Porque se eu tivesse sozinha, juro que teria ido ao posto de saúde dizer que transei bêbada com absorvente interno, eu não teria forças pra passar por isso sozinha (e se não fosse o absorvente interno nem teria ido, correndo riscos de saúde); quantas outras mulheres não devem ter sofrido nas mãos desse imbecil e dessas empresas de segurança irresponsáveis que contratam qualquer um?! E o mais importante, eu não suporto imaginar que outra mulher pode passar pelo mesmo que eu passei e ficar calada, estou fazendo a minha parte pra evitar outras dores e outros sofrimentos.

P.S.: A nota está sujeita a edições para acréscimo de informações.

P.S. 2: Seguem algumas imagens, que comprovam o narrado, nos comentários.

P.S. 3: Tenho recebido muitas mensagens em apoio, estou lendo todas na medida do possível. Muito obrigada, de coração! Tenho recebido também solicitações de amizade, ativei a configuração “seguir” para que recebam atualizações sobre o caso. Tudo que fizer referência ao mesmo terá status público. Meus familiares e amigos estão sofrendo junto comigo, então não quero que eles sejam expostos. Mais, uma vez, muito obrigada!

P.S. 4: Aos que estão duvidando, me julgando... Só desejo que nunca aconteça nada semelhante nem à pessoa que vocês mais odeiam."

 

 
Desde o início da década de 80 as mulheres sabem: têm voz no rádio brasileiro. Com mais de 30 anos dedicados à defesa dos direitos da mulher, o Viva Maria apresenta temas relevantes e entrevistas com personalidades que contribuem para a melhoria da vida da mulher. Em formato de programete, o Viva Maria é presença garantida na programação das Rádios EBC. Apresentação e Produção: Mara Régia



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Criado em 02/02/2016 - 11:46 e atualizado em 02/02/2016 - 11:46

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