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No rádio, Lúcio Alves e o sucesso da 'rivalidade' com Dick Farney

Em 1974, cantor integrou série radiofônica 'MPB 100', de Ricardo Cravo

O cantor, compositor e instrumentista Lúcio Ciribelli Alves, o Lúcio Alves, participou da época de ouro da Rádio Nacional. Foi ícone do auge do samba-canção e da fase pré-bossa nova. O estranho apelido, 'o Cantor das Multidinhas', foi criado pelo radialista Silvino Neto ao comparar Lúcio Alves com Orlando Silva, conhecido como 'Cantor das Multidões'.

 

Lúcio nasceu no dia 28 de janeiro de 1927, em Cataguases, Minas Gerais, e morreu em 3 de agosto de 1993, no Rio de Janeiro, aos 66 anos. Segundo o Dicionário da Música Popular Brasileira, de Ricardo Cravo Albin, quando Lúcio tinha seis anos de idade começou a aprender a tocar violão, influenciado pelo pai, que era maestro da Banda de Cataguases. Amava o repertório de Orlando Silva.

 

Aos 9 anos, estreou no programa de rádio de Barbosa Júnior, cantando a música "Juramento Falso", de Pedro Caetano. Logo depois, foi convidado a participar de outro programa de Barbosa Júnior, na Rádio Mayrink Veiga, chamado Picolino.

 

Lúcio Alves tentou a carreira de ator mirim na Rádio Nacional, na radionovela "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa", em que fazia o personagem principal. Em 1940, formou o grupo vocal e instrumental Namorados da Lua. Ele era crooner, violonista e arranjador. O grupo venceu o concurso de calouros no difícil programa de Ary Barroso, na Rádio Tupi, 'Calouros em Desfile'. Depois, os músicos saíram vencedores no concurso carnavalesco do Teatro República com a marcha "Nós, os Carecas", de Arlindo Marques e Roberto Roberti.

 

Em 1942, os Namorados da Lua gravaram o primeiro disco do grupo, pela Victor. O disco, de 78 rotações por minuto, trazia duas composições de Assis Valente: "Vestidinho de Iaiá" e "Té Logo, Sinhá". O conjunto passou por diferentes formações ao longo de seis anos de existência e seu grande sucesso foi "Eu Quero um Samba", de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa.

 

Também com Haroldo Barbosa, compôs em 1943 o samba "De Conversa em Conversa", quando tinha apenas 17 anos. O grupo costumava se apresentar nos cassinos da cidade, muito bem recebidos pela elite que frequentava a noite do Rio. Os Namorados da Lua acabaram em 1947, mas, antes, deixaram uma porta aberta para outros conjuntos vocais.

 

Em 1948, sem o grupo Namorados da Lua, Lúcio Alves lançou seu primeiro disco solo pela Continental, o bolero "Tres Palabras", de Osvaldo Farres, que ganhou a versão em português chamada "Solidão", feita por Aloysio de Oliveira. No mesmo ano, passou a fazer parte do grupo Anjos do Inferno, época que aconteceu sua carreira internacional. Primeiramente, em uma turnê por Cuba, México e Estados Unidos, onde Lúcio e o grupo se apresentaram com o nome de Hell's Angels, e, depois em boates nova-iorquinas como Reuben Bleu e Blue Angel, como Anjos do Inferno. Os músicos cantaram as composições de Dorival Caymmi ("Doralice") e de Geraldo Pereira ("Bolinha de Papel"), entre muitas outras, em português.

 

A cantora Carmem Miranda gostou da voz grave e macia de Lúcio Alves, de sua afinação e da sua capacidade de divisão das palavras. Convidou os Anjos do Inferno para acompanhá-la. O grupo aceitou, mas Lúcio achou que não conseguiria se destacar dessa maneira.

 

Em 1948, Lúcio Alves e Dick Farney, que já estava nos Estados Unidos tentando carreira internacional, se encontraram na rádio CBS. Eles já se conheciam, tinham repertório e jeito parecidos de cantar, mas não competiam entre eles. Depois de um tempo, acharam que não deveriam morar nos Estados Unidos para sempre. Assim, pouco menos de um ano depois, Lúcio Alves e Dick Farney voltaram ao Rio de Janeiro.  Em 1949, Lúcio lançou de sua autoria o bolero "Brumas", um dos sucessos do ano e, de Dorival Caymmi o samba "Nunca mais". Como todos os cantores de sucesso da época, Lúcio Alves cantava nas boates Baccara, Arpège e Plaza.

 

Em 1954, parte da imprensa brasileira divulgou que havia uma rivalidade entre o cantor Dick Farney e Lúcio Alves, o que não era verdade. Mas, por essa razão, a gravadora Continental encomendou a Antônio Carlos Jobim e Billy Blanco uma música para ser interpretada pelos dois cantores. Surgiu então o samba pré-bossa nova "Tereza da praia". Foi muito bom para os dois. A versão que apresenta o Todas as Vozes conta com acompanhamento de Tom Jobim e seu conjunto.

 

No fim dos anos 1950, Lúcio Alves gravou a música "Sábado em Copacabana", de Dorival Caymmi e Carlos Guinle, considerada também precursora da bossa nova. Ganhou imediatamente as paradas de sucesso. Em 1960, recebeu o troféu Disco de Ouro como cantor do ano pela comissão da Rio Gráfica e Editora, promotora do prêmio. Sua entrega à bossa nova ficou evidente no LP "A Bossa é Nossa", lançado pela Philips em 1961, no qual interpretou, entre outras canções, "Dindi", de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, "Nova Ilusão", de Luís Bittencourt e José Meneses, e "O Samba da Minha Terra", de Dorival Caymmi. Contratado pela gravadora Elenco, de Aloysio de Oliveira, lançou em 1963 o LP "Balançamba" reunindo canções da dupla Menescal-Bôscoli como 'Rio", "Ah! Se Eu Pudesse" e "O Barquinho". 

 

Ao longo da década de 1960, participou da produção de gravações de conjuntos vocais e de programas para a TV Record, onde criou o quadro 'Roda de Samba', que reunia cantores na formação de quartetos vocais. Trabalhou como produtor da TV Tupi, atuando em programas como os de Flávio Cavalcanti, e também como um dos diretores musicais da TV Excelsior. Era um tempo em que as TV's tinham muita ligação com a MPB.

 

Em 1974, Lúcio Alves fez parte da série radiofônica 'MPB 100, Ao Vivo', escrita e apresentada por Ricardo Cravo Albin para o Projeto Minerva, gerado para todo o país pela Rádio MEC AM. Mais tarde, os programas foram gravados em oito LP's pela gravadora Tapecar. Lúcio Alves participou ativamente do movimento da bossa nova, ao lado de Johnny Alf, Dóris Monteiro e Alaíde Costa.

 

Com colaboração de Rose Esquenazi (www.radionahistoria.blogspot.com.br), professora da Faculdade de Comunicação da PUC-RJ, o quadro 'O Rádio Faz História' do programa Todas as Vozes de segunda-feira (14), conta histórias curiosas da carreira de Lúcio Alves. Ouça, no quadro, trechos dos sucessos "Estrada do Sol", "De Conversa em Conversa" (com Lúcio Alves e Dóris Monteiro), "Tereza da praia" (com Lúcio Alves e Dick Farney - 1954) e "Sábado em Copacabana".

 

Confira, no player, o áudio completo da conversa de Marco Aurélio Carvalho com a professora Rose Esquenazi.

 

O programa Todas as Vozes vai ao ar de segunda a sexta, de 7h20 às 10h, na Rádio MEC AM do Rio de Janeiro, 800 kHz, com apresentação do jornalista e radialista Marco Aurélio Carvalho.



Criado em 29/03/2016 - 19:23 e atualizado em 29/03/2016 - 18:39

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