O programa deste domingo (29) celebra os 150 anos de Arnold Schoenberg, o austríaco que marcou a história da música com novas abordagens composicionais que desafiaram as convenções estabelecidas.
Arnold Schoenberg nasceu em 13 de setembro de 1874, em uma família judaica em Viena. Desde cedo, ele demonstrou interesse pela música, mas teve uma formação autodidata em grande parte de sua juventude. Seus primeiros estudos formais ocorreram com o compositor e maestro Alexander von Zemlinsky, que se tornou o seu mentor. Zemlinsky, que era um admirador de Brahms e Mahler, ajudou a moldar a base técnica e estética de Schoenberg.
No final do século XIX, Viena era um fervilhante centro cultural, com fortes tradições musicais. O jovem Schoenberg se viu imerso em um ambiente repleto de debates sobre o futuro da música, em um momento em que compositores como Gustav Mahler e Richard Strauss estavam expandindo os limites do sistema tonal.
Foi nesse contexto que Schoenberg começou a compor algumas de suas obras mais significativas do início da sua carreira, como “Noite Transfigurada”. Este sexteto de cordas, apesar de ainda se manter dentro dos limites do tonalismo tardio, já apontava para sua busca por novos horizontes expressivos.
A primeira fase de Schoenberg, conhecida como fase tonal tardia, é caracterizada por uma forte influência de compositores como Wagner e Brahms, mas com uma intensificação dos recursos harmônicos e texturais. Obras como o "Quarteto de Cordas n.º 1" e o poema sinfônico "Pelleas e Melisande" exemplificam essa linguagem ao mesmo tempo exuberante e densa.
Com o passar do tempo, Schoenberg começa a explorar territórios musicais até então inexplorados. Ele abandonou a tonalidade tradicional, sentindo que os sistemas harmônicos convencionais não eram mais capazes de expressar sua visão artística. Isso levou ao que se denomina sua fase atonal ou livre, que inclui obras como o "Segundo Quarteto de Cordas" e o ciclo de canções "Pierrot Lunaire". Nesta fase, Schoenberg começou a empregar técnicas onde a variação de timbre é tão importante quanto a melódica, além do uso de uma unidade motívica variada e desenvolvida de várias maneiras, mas sem a referência a um centro tonal.
O desenvolvimento mais revolucionário de Schoenberg veio na década de 1920, em sua terceira fase composicional. Neste período, ele desenvolve o sistema dodecafônico, uma técnica composicional que utiliza todas as 12 notas da escala cromática de maneira equitativa, evitando hierarquias tonais.
Essa técnica, formalizada em obras como a "Suite para Piano, Op. 25", o "Quarteto de Cordas n.º 4" e a sua ópera inacabada "Moisés e Aarão", foi uma resposta ao que ele percebia como a exaustão do sistema tonal tradicional. O sistema dodecafônico foi um divisor de águas na história da música, oferecendo um novo método para estruturar a música de maneira coerente e sistemática.
A vida de Schoenberg foi marcada por convulsões políticas e pessoais, e por períodos que variavam de intensa criatividade a inúmeras dificuldades financeiras. Em 1925, ele aceitou uma posição de professor na Academia de Artes de Berlim, onde teve grande influência sobre jovens compositores. No entanto, com a ascensão do nazismo, Schoenberg, que havia se convertido ao cristianismo em 1898, voltou ao judaísmo em 1933 e emigrou para os Estados Unidos, onde se estabeleceu em Los Angeles.
Apesar das dificuldades para se adaptar ao novo ambiente cultural, Shoenberg continuou a compor e a ensinar, produzindo obras importantes, tais como: “Kol Nidre opus 39"; o “Concerto para Violino Opus 36”, a “Ode a Napoleão Bonaparte Op. 41", e a comovente cantata "Um Sobrevivente de Varsóvia" (1947), que retrata os horrores do Holocausto e reflete suas profundas preocupações com a tragédia de seu povo.
Schoenberg foi uma figura-chave na Escola de Viena, ao lado de seus discípulos Anton Webern e Alban Berg. Seu legado é profundo e complexo, marcando a história da música com novas abordagens composicionais que desafiavam as convenções estabelecidas. Ele não apenas rompeu com a tradição tonal, mas também propôs um novo paradigma composicional que, apesar de controverso, abriu caminho para uma infinidade de experimentações posteriores. Sua abordagem sistemática e sua teoria dodecafônica foram exploradas e desenvolvidas por compositores como Pierre Boulez, Luigi Nono e Karlheinz Stockhausen.
Além de compositor, Schoenberg foi um pensador e pedagogo influente. Seu livro "Fundamentos da Composição Musical", de 1942, é uma obra de referência para músicos e teóricos, e suas ideias sobre forma, harmonia e estética continuam a ser debatidas. Apesar das resistências e críticas que sua obra enfrentou – sendo muitas vezes considerada hermética e intelectualizada demais –, sua contribuição para a música é inegável. Arnold Schoenberg morreu em 13 de julho de 1951, em Los Angeles, e seu legado é marcado pela coragem de explorar o desconhecido e pela busca incessante por novas formas de expressão.
Saiba mais no Caderno de Música. Domingo, às 14h30, na Rádio MEC.